Economia

Justiça investiga financimento ilegal da campanha de Cavaco. Quem são os gestores do BES envolvidos?

Revista Sábado conta que dez gestores do BES/GES - incluíndo Ricardo Salgado, Amílcar Morais Pires e Ricciardi - financiaram a campanha presidencial de Cavaco Silva em 2011. E que depois uma entidade do banco lhes devolveu o dinheiro. A justiça suspeita que se trata de um esquema de financiamento ilegal da campanha, que não pode ser financiada por empresas, e já abriu um inquérito

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

A campanha presidencial de 2011, que levou à reeleição de Cavaco Silva como Presidente da República, está envolta em polémica e o DCIAP está a investigar a existência de um alegado esquema de financiamento ilegal. A investigação, revelada pela Sábado, aponta o nome de dez antigos gestores de topo do banco.

O esquema, segundo a revista Sábado, que relata o caso na edição desta quinta-feira, centrava-se no famoso saco azul do grupo (ES Enterprises, sediada no Panamá), envolvendo 253.360 euros, distribuídos por 10 pessoas.

Quem foram os gestores do BES/GES que beneficiaram de um alegado esquema fraudulento que lhes permitiu recuperar os donativos individuais com que financiaram a candidatura presidencial de Cavaco Silva, em 2011?

À cabeça dos doadores suspeitos encontra-se Ricardo Salgado, o ex-banqueiro que está a ser investigado na Operação Marquês. Mas a lista conta com outros elementos da família Espírito Santo, como Manuel Fernando Espírito Santo Silva, presidente da Rioforte, o comandante António Ricciardi, pai do então administrador José Maria Ricciardi e Manuel Fernando Galvão Espírito Santo, um dos gestores do Grupo Espírito Santo.

Na lista dos financiamentos à candidatura de Cavaco Silva surgem os administradores executivos do BES à época: Rui Silveira, Joaquim Goes, António Souto, Pedro Fernandes Homem e Amílcar Morais Pires, o braço-direito de Salgado.

Segundo a Sábado, um outro financiador ligado a Salgado que passou um cheque para a campanha foi Mário Mosqueira do Amaral, acionista de referência da holding Espírito Santo Control, falecido em março de 2014.

Contribuição máxima

Na maioria dos casos, os donativos atingiram o valor máximo permitido por lei: 25.600 euros (60 salários mínimos). Os restantes ficaram entre os 25 mil euros e o valor máximo.

No total, as doações do clã Espírito Santo atingiu os 253.360 euros - a receita apurada por Cavaco Silva para a campanha foi de 1,5 milhões.

Segundo a Sábado apurou, há uma coincidência perfeita de valores e datas entre os donativos dos gestores do BES e a saída posterior de dinheiro do saco azul para as suas contas pessoais.

De acordo com a lei de financiamento das campanhas, as candidaturas não podem ser financiadas por empresas ou instituições, mas apenas por cidadãos a título individual. Daí os donativos, todos no valor do limite legal, dos administradores do banco.

Esquema fraudulento

Os nove cheques do BES e um do Barclays registados em novembro e dezembro de 2010 nas contas da candidatura de Cavaco Silva terão configurado falsos donativos individuais, contornando a proibição de empresas de financiarem a campanha presidencial, refere a Sábado (link da revista AQUI), que noticia a abertura de uma investigação autónoma do DCIAP a este caso de financiamento de campanha..

Na realidade, os donativos individuais terão resultado de um acordo de bastidores que iludiu a lei portuguesa, que só permite donativos até um determinado montante, sempre feitos por pessoas individuais e nunca por empresas ou outras entidades coletivas. O Ministério Público estará a investigar estas movimentações e suspeitas de financiamento ilegal da campanha.

Em Julho de 2014, com o BES a dar sinais de debilidade, Cavaco Silva apareceu publicamente a dizer que os portugueses podiam confiar no banco, separando o banco do universo privado da família.

Entre os financiadores da campanha de Cavaco Silva de 2011, contam-se empresários como Nuno Vasconcelos, o fundador da Ongoing, João Pereira Coutinho, ( 25.560 euros cada), José Guilherme (75 mil, distribuídos pela mulher e filho) e António Barroca (grupo Lena), um dos fiéis de Cavaco que contribuiu com 40 mil euros para as campanhas de 2006 e 2011.