Economia

Crédito ao consumo. Um euro a mais dá 1,5 euros na economia, cinco anos depois

Estudo avalia os efeitos do crédito ao consumo na evolução do Produto Interno Bruto. Em 2018, os novos contratos somaram 7,4 mil milhões de euros

Nuno Botelho

Um euro a mais no crédito ao consumo pode ter um efeito na economia de 1,5 euros, cinco anos depois da celebração do contrato.

No caso do aumento "temporário e inesperado" na oferta de crédito ao consumo em 1% tem, no segundo ano de vida, um impacto de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com um estudo apresentado esta terça-feira pela ASFAC - Associação de instituições de Crédito Especializado e coordenado por Pedro Brinca, professor da Nova School of Business and Economics.

Se o aumento na oferta de crédito for sustentado no tempo o impacto no PIB é de 0.6% após 2 anos, e de 1.15% após 5 anos. Isto é, o efeito multiplicador leva a que um euro a mais de concessão de crédito "traduz-se em um euro passado um ano e 1 euro e 50 cêntimos passados dois anos", nota o estudo.

Estes resultados significam que a oferta de crédito das associadas ASFAC "tem um impacto significativo no nível de atividade da economia portuguesa no curto e médio prazo".

Consumo, investimento e emprego

O efeito do crédito ao consumo na economia revela-se sobretudo através do consumo de bens duráveis, investimento e emprego.

"Quando o crédito ASFAC aumenta inesperadamente em 1%, o consumo de bens duráveis e investimento aumenta em 0.5% e 0.4%, respetivamente, passado dois anos". refere o estudo.

Os choques na oferta de crédito " foram relevantes para a dinâmica do PIB nas últimas duas décadas". A recuperação do PIB pós-crise de 2014 "deve-se, em grande medida, à recuperação do crédito total ASFAC."Sem esse aumento, o PIB seria 0.5% inferior ao registado no primeiro trimestre de 2018".

O estudo reconhece que no geral o crédito automóvel "tem efeitos maiores e mais persistentes sobre o PIB do que o crédito total ao consumo". Um aumento de 1% neste tipo de financiamento refelte-se no PIB em 0,5% ao fim de três anos.

Incumprimento nos 10%

O mercado de crédito aos consumidores tem mantido uma trajetória de recuperação desde 2013. Em 2015 e 2016, o crescimento foi particularmente expressivo – 23% e 18%,

O montante das novas operações aprovadas durante o ano de 2018 somou 7.4 mil milhões de euros. Desde 2017 que a cifra supera os valores de pré-crise.

Em média, foram concedidos 556,8 milhões de euros de crédito por mês em 2017, o que compara com 497,4 milhões de euros, em 2016, e 423,1 milhões de euros, em 2015. Em 2018 foram concedidos mais 150 milhões de euros por mês do que em 2010.

O número de novos contratos acompanha a evolução do crédito concedido, embora a um ritmo inferior. Em 2018, aumentou 2.4%, um crescimento abaixo do verificado em 2017 (mais 5.1%) e também abaixo do registado em 2016 (mais 6.5%).

O nível de incumprimento está a baixar. Em 2017, o número de incumpridores atingiu 10,8% do total de devedores. Este rácio atingiu o seu valor mais elevado em 2012 – 16.9%.

Custo do crédito em queda

O custo de crédito tem estado também em queda, sendo transversal aos três segmentos - pessoal, automóvel e revolving (rotativo).

Mas, é mais acentuada no caso do revolving que evoluiu de 24,8% (2013) para 15,8% (2018). No caso do crédito automóvel, a evolução foi de 13,6% (2013) para 11,4% (2018). O crédito pessoal está a meio do intervalo, com uma taxa (2018) de 13,2%

O crédito automóvel foi o segmento em que o montante de crédito mais aumentou desde 2013, seguido do crédito pessoal.

Segundo o estudo, o crédito revolving foi o que registou maior resilência durante o período da crise. Mas, depois, a sua importância face aos outros tipos de crédito foi-se reduzindo. Esta evolução "sugere a utilização deste tipo de crédito como um importante meio de estabilização do consumo no período de recessão" pela sua flexibilidade " e baixo custo para pequenos montantes".

A ASFAC nota que "o crédito ao consumo, mais do que antecipar a compra futura de bens e serviços, desempenha um papel importante na estabilização do poder de compra das famílias, sobretudo em períodos de queda do rendimento".

Após a recessão económica portuguesa, o tipo de crédito que mais cresceu "foi destinado à compra de automóvel, um bem duradouro "que melhora o bem estar das famílias e se traduz por um investimento".

Um inquérito realizado em maio de 2019 revelou que 92% dos clientes das instituições de crédito do universo ASFAC estão "satisfeitos, ou muito satisfeitos, com a escolha da instituição".