Um euro a mais no crédito ao consumo pode ter um efeito na economia de 1,5 euros, cinco anos depois da celebração do contrato.
No caso do aumento "temporário e inesperado" na oferta de crédito ao consumo em 1% tem, no segundo ano de vida, um impacto de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com um estudo apresentado esta terça-feira pela ASFAC - Associação de instituições de Crédito Especializado e coordenado por Pedro Brinca, professor da Nova School of Business and Economics.
Se o aumento na oferta de crédito for sustentado no tempo o impacto no PIB é de 0.6% após 2 anos, e de 1.15% após 5 anos. Isto é, o efeito multiplicador leva a que um euro a mais de concessão de crédito "traduz-se em um euro passado um ano e 1 euro e 50 cêntimos passados dois anos", nota o estudo.
Estes resultados significam que a oferta de crédito das associadas ASFAC "tem um impacto significativo no nível de atividade da economia portuguesa no curto e médio prazo".
Consumo, investimento e emprego
O efeito do crédito ao consumo na economia revela-se sobretudo através do consumo de bens duráveis, investimento e emprego.
"Quando o crédito ASFAC aumenta inesperadamente em 1%, o consumo de bens duráveis e investimento aumenta em 0.5% e 0.4%, respetivamente, passado dois anos". refere o estudo.
Os choques na oferta de crédito " foram relevantes para a dinâmica do PIB nas últimas duas décadas". A recuperação do PIB pós-crise de 2014 "deve-se, em grande medida, à recuperação do crédito total ASFAC."Sem esse aumento, o PIB seria 0.5% inferior ao registado no primeiro trimestre de 2018".
O estudo reconhece que no geral o crédito automóvel "tem efeitos maiores e mais persistentes sobre o PIB do que o crédito total ao consumo". Um aumento de 1% neste tipo de financiamento refelte-se no PIB em 0,5% ao fim de três anos.
Incumprimento nos 10%
O mercado de crédito aos consumidores tem mantido uma trajetória de recuperação desde 2013. Em 2015 e 2016, o crescimento foi particularmente expressivo – 23% e 18%,
O montante das novas operações aprovadas durante o ano de 2018 somou 7.4 mil milhões de euros. Desde 2017 que a cifra supera os valores de pré-crise.
Em média, foram concedidos 556,8 milhões de euros de crédito por mês em 2017, o que compara com 497,4 milhões de euros, em 2016, e 423,1 milhões de euros, em 2015. Em 2018 foram concedidos mais 150 milhões de euros por mês do que em 2010.
O número de novos contratos acompanha a evolução do crédito concedido, embora a um ritmo inferior. Em 2018, aumentou 2.4%, um crescimento abaixo do verificado em 2017 (mais 5.1%) e também abaixo do registado em 2016 (mais 6.5%).
O nível de incumprimento está a baixar. Em 2017, o número de incumpridores atingiu 10,8% do total de devedores. Este rácio atingiu o seu valor mais elevado em 2012 – 16.9%.
Custo do crédito em queda
O custo de crédito tem estado também em queda, sendo transversal aos três segmentos - pessoal, automóvel e revolving (rotativo).
Mas, é mais acentuada no caso do revolving que evoluiu de 24,8% (2013) para 15,8% (2018). No caso do crédito automóvel, a evolução foi de 13,6% (2013) para 11,4% (2018). O crédito pessoal está a meio do intervalo, com uma taxa (2018) de 13,2%
O crédito automóvel foi o segmento em que o montante de crédito mais aumentou desde 2013, seguido do crédito pessoal.
Segundo o estudo, o crédito revolving foi o que registou maior resilência durante o período da crise. Mas, depois, a sua importância face aos outros tipos de crédito foi-se reduzindo. Esta evolução "sugere a utilização deste tipo de crédito como um importante meio de estabilização do consumo no período de recessão" pela sua flexibilidade " e baixo custo para pequenos montantes".
A ASFAC nota que "o crédito ao consumo, mais do que antecipar a compra futura de bens e serviços, desempenha um papel importante na estabilização do poder de compra das famílias, sobretudo em períodos de queda do rendimento".
Após a recessão económica portuguesa, o tipo de crédito que mais cresceu "foi destinado à compra de automóvel, um bem duradouro "que melhora o bem estar das famílias e se traduz por um investimento".
Um inquérito realizado em maio de 2019 revelou que 92% dos clientes das instituições de crédito do universo ASFAC estão "satisfeitos, ou muito satisfeitos, com a escolha da instituição".