Economia

Berardo recusa enviar aos deputados informações sobre “golpada” aos bancos

Associação Coleção Berardo, dona das obras de arte que estão sob um acordo com o Estado, recusa enviar dados à comissão de inquérito à CGD

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Como é que José Berardo deu a chamada “golpada” aos bancos, que lhes tirou poder sobre as obras de arte da coleção Berardo? Não se conhecem todos os pormenores e vai continuar sem saber-se. A Associação Coleção Berardo, dona das obras em exposição no Centro Cultural de Belém por acordo com o Estado, recusou enviar aos deputados a documentação pedida que permitiria obter respostas.

“Não se alcança qual o objectivo da comissão de inquérito com o seu requerimento, pois que a Associação Coleção Berardo em nada poderá contribuir para o inquérito em causa”, indica a entidade em resposta à segunda comissão de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos.

“A Associação Coleção Berardo não é, nem nunca foi, cliente da CGD, nem ainda existiu ou existe qualquer concessão de crédito da CGD à Associação Coleção Berardo”, continuou a entidade.

O CDS tinha pedido, no âmbito da comissão de inquérito, dados sobre a Associação, como as atas das reuniões, os estatutos atuais e anteriores e quem são (e eram) os donos dos títulos de participação da Associação. Os bancos CGD, BCP e Novo Banco (antigo BES) tinham o penhor sobre estes títulos, com base nos seus empréstimos. Contudo, houve um aumento de capital que mudou o peso das instituições financeiras na entidade, segundo revelou o próprio Berardo na sua audição parlamentar. Foi designada de "golpada" pela deputada Mariana Mortágua, sendo que Berardo respondeu que "golpada" era ter personalidades à frente dos bancos que não percebiam do negócio.

Ora, o CDS considera que, apesar da resposta da Associação, o tema diz respeito à comissão de inquérito à Caixa e, por isso, reitera o pedido. É “óbvia” a relação da associação com os processos de crédito da CGD a entidades ligadas ao empresário madeirense, segundo os centristas, representados por João Almeida e Cecília Meireles.

Desde logo porque há um acordo-quadro celebrado entre José Berardo, a Fundação José Berardo, a Metalgest e a Moagens Associadas, a Associação de Coleções, a Associação Coleção Berardo e ainda, do lado dos bancos, a CGD, o BCP e o BES. Esse acordo-quadro, citado pelo CDS, indica que as “partes acordaram a reestruturação dos financiamentos com vista a criar condições para o cumprimento, pelas entidades bancárias, dos compromissos desses financiamentos”. Logo, a Associação Coleção Berardo é uma parte num negócio com o banco público.

Sendo assim, o requerimento volta a ser dirigido à Associação Coleção Berardo. O banco público concedeu créditos de 439 milhões de euros a entidades do grupo do empresário. Ao todo, a CGD, BCP e Novo Banco estão a executar, em conjunto, 962 milhões de euros a José Berardo, Fundação Berardo, Moagens Associadas e ainda Metalgest.

Berardo encontra-se num diferendo com o inquérito parlamentar, tendo a sua defesa pedido a transcrição da sua audição para avaliar se faz sentido avaliar o avanço de algum processo judicial contra os deputados ou o presidente da comissão parlamentar, Luís Leite Ramos.