Economia

Filipe Pinhal: “Houve teia urdida” entre Sócrates, Teixeira dos Santos e Constâncio

Berardo era quem mandava no BCP entre 2008 e 2012, na presidência de Santos Ferreira, segundo disse Filipe Pinhal aos deputados, que rejeitou ter levado o empresário a financiar-se na CGD

António Rodrigues, Filipe Pinhal e Jardim Gonçalves

O antigo presidente do Banco Comercial Português (BCP), Filipe Pinhal, foi à comissão de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos para desmentir Joe Berardo. E repetiu acusações: contra Sócrates e contra Vítor Constâncio.

“Houve uma teia urdida em vários pontos, que teve um diretório claro constituído por José Sócrates, Teixeira dos Santos e Vítor Constâncio, e depois vários operacionais, cada um a fazer o seu papel”. Filipe Pinhal falava na guerra de poder que houve no BCP em 2007, que acabou no ano seguinte com a entrada de Carlos Santos Ferreira, vindo do banco público, para a presidência, e com a angolana Sonangol a assumir o lugar de principal acionista.

Essa guerra de poder teve vários nomes, sendo que começou com uma oposição entre Jorge Jardim Gonçalves, fundador, e Paulo Teixeira Pinto, seu sucessor. “Passei o ano a ser enganado, à esquerda, à direita, por cima, por baixo”, admitiu o nome que, aliado de Jardim, substituiu Teixeira Pinto por menos de um semestre. Acabou depois por sair, e acredita que foi prejudicado pelos interesses do "triunvirato" inicialmente referido.

Berardo estava no grupo de sete investidores que estava ao lado de Teixeira Pinto. E, mesmo após a saída deste gestor, o empresário madeirense acabou por ganhar força. Aliás, segundo Pinhal, Berardo foi o verdadeiro presidente do BCP entre 2008 e 2012, no mandato da administração de Santos Ferreira. Berardo era o presidente do conselho de remunerações.

Pinhal desmente Berardo

Em relação à acusação de Berardo – que disse aos deputados que tinha sido Filipe Pinhal a recomendar a compra de ações do BCP com financiamento da CGD, por o banco privado já não poder aumentar a exposição aos seus próprios títulos, no passado ano de 2007 –, o ex-gestor desmentiu.

“O grande aumento da posição do Sr. José Berardo, e os empréstimos que pediu à Caixa, tiveram lugar no verão de 2007. Por essa altura, José Berardo estava a assinar uma proposta para ir à assembleia-geral de 6 de agosto do BCP, para me destituir. Seria altamente improvável que ajudasse José Berardo para me destituir”, relatou aos deputados.

A única coisa que Pinhal assume é ter tentado convencer Berardo a vender a sua participação acionista no BCP, para impedir a “destruição” de valor em ambos os lados da guerra. Pinhal lembrou a Berardo que podia registar mais-valias entre 100 e 150 milhões de euros caso vendesse a sua posição. O empresário dizia que poderia receber ainda mais. Mas não aconteceu.

Berardo investiu mais - com o aval do Banco de Portugal liderado por Constâncio. Reforçou a sua posição, com a CGD a ter concedido uma conta corrente de até 350 milhões de euros. Para esse crescimento no BCP financiara-se não só no banco público mas no próprio BCP e no então BES, hoje Novo Banco. Agora, os bancos reclamam 962 milhões ao empresário que diz, por sua vez, que nada deve.