Economia

Berardo: “Jamais foi minha intenção ofender os meus compatriotas”

José Berardo defende-se, em comunicado, das críticas de que tem sido alvo desde que foi ao Parlamento. Ainda que reprovando a postura dos deputados, assegura que não quis faltar ao respeito à Assembleia. O empresário lembra que teria sido mais fácil ter “amnésia seletiva” e não foi essa a sua opção

Tiago Miranda

Não houve intenção de ofender ninguém. Foram excessos decorrentes do calor da discussão parlamentar. É assim que José Berardo se defende depois de duas semanas em que a sua postura na comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos foi alvo de críticas em plena campanha para as europeias e motivou até um processo disciplinar para avaliar a possível retirada das suas condecorações. O empresário admite ter dado “respostas impulsivas”, num comunicado em que, porém, censura a postura dos deputados e em que assume que há tem uma “batalha pela frente”. Sublinha ainda que poderia ter optado, como outros, pela “amnésia seletiva”.

“Tenho que admitir que, no calor da discussão, me excedi, dando algumas respostas impulsivas e não devidamente ponderadas”, assume o empresário num comunicado datado de 23 de maio, enviado às redações, após a audição, que aconteceu a 10 de maio.

“Não foi certamente minha intenção ofender quem quer que seja, muito menos faltar ao respeito devido à Assembleia da República”, continua José Manuel Rodrigues Berardo – é com o nome inteiro que o documento está identificado. “Adoro o meu país e jamais foi minha intenção ofender os meus compatriotas; adoro o meu país e quem me conhece sabe que jamais faltaria ao respeito a um órgão de soberania”, adianta.

O comunicado de Berardo é enviado depois de ter sido iniciado um processo disciplinar por parte do Conselho das Ordens Nacionais para avaliar a possível retirada das duas condecorações do madeirense (comendador e grã-cruz da Ordem Infante D. Henrique). O processo foi aberto depois de a Assembleia da República concluir que “a conduta e a natureza das declarações do Senhor José Berardo nesta comissão podem ser consideradas matéria relevante para avaliação do cumprimento dos deveres legais dos membros das Ordens”. Aliás, o Parlamento também dirigiu as declarações para o Ministério Público, que vai avaliar se há “questões consideradas criminalmente relevantes” no âmbito do inquérito que corre sobre a gestão da Caixa Geral de Depósitos.

Eu pessoalmente não tenho dívidas”; “Quem foi o mais prejudicado aqui fui eu”; “não tenho nada”: estas foram algumas das declarações do empresário na audição parlamentar, em que revelou também que foi realizada uma operação de aumento de capital na Associação Coleção Berardo, dona das obras de arte com o seu nome, que retirou poder aos bancos credores.

A censura aos deputados

Embora admitindo falhas, Berardo diz que podia ter sido pior para o esclarecimento público. Aí, há um ataque a outras personalidades que estiveram em iniciativas parlamentares anteriores. “Teria sido mais fácil para mim não responder às perguntas e esconder-me em ataques de ‘amnésia seletiva’, como tem acontecido com frequência nesta comissão. Não o fiz, por respeito ao Parlamento e aos portugueses. Não o fiz, por respeito ao Parlamento e aos portugueses”. A audição de Zeinal Bava, ex-presidente da Portugal Telecom, é uma das que é recordada pelos deputados como uma das mais insatisfatórias devido ao escudo “memória”.

E ainda que escreva que não quis ofender os portugueses, o antigo acionista do BCP – o banco que diz ter sido o “pior desastre” da sua vida – reprova a postura dos deputados: “Fui sujeito a um intenso interrogatório regido por regras políticas que não domino nem quero dominar”. Além da crítica, há um lamento: “Foi pena, mas quase ninguém me questionou sobre o objeto desta comissão, a recapitalização da Caixa e os atos de gestão da mesma”.

Berardo diz que não quis ofender ninguém na audição, e assume que se excedeu no calor da audição, mas há uma semana, afirmou ao “Sol”, não estar preocupado com o processo disciplinar. “Se eles quiserem levar [as condecorações]... olhe, é um descanso”.

ANTÓNIO COTRIM/Lusa

Preparado para a batalha

O advogado do empresário, André Luiz Gomes, avisou os deputados, no dia da audição parlamentar, que a transmissão em direto das declarações violava o direito à imagem, pelo que deveriam estar conscientes disso. A RTP noticiou que será interposta uma ação contra o presidente da comissão parlamentar, o deputado social-democrata Luís Leite Ramos, por ter permitido que o Canal Parlamento passasse, em direto, as suas respostas.

“Desde essa data, tenho servido de ‘bode expiatório’ de todos os males do sistema financeiro português desde 2007”, argumenta Joe Berardo. E é daí que admite atuar para se defender. “Não vou aceitar passivamente”.

“Na minha vida, já estive envolvido em muitas batalhas. Esta é apenas mais uma e, por certo, não será a última”, sentencia o empresário que, por exemplo, desde o início do século tem uma batalha judicial com o BBVA.

Como o Expresso escreveu na edição semanal passada, os banqueiros consideram que a audição acabou por dar argumentos ao processo por si colocado contra o empresário. Joe Berardo está a ser alvo de uma ação de execução de 962 milhões de euros colocada nos tribunais pela Caixa Geral de Depósitos, Banco Comercial Português e Novo Banco, que tentam recuperar o acesso à Coleção Berardo para serem ressarcidos, e que prometem diligências adicionais.