A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) está pessimista sobre o crescimento da economia mundial e avisa que o crescimento já de si “medíocre” poderá piorar se houver uma escalada na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China a partir do verão.
No ‘Economic Oulook’ publicado esta terça-feira em Paris, a OCDE prevê que o crescimento global abrande para 3,2% em 2019, acelerando para 3,4% no ano seguinte, ficando abaixo de 3,7% e 3,5% registados respetivamente em 2017 e 2018. A nova previsão para 2019 revê em baixa em uma décima a taxa de crescimento avançada no relatório intercalar publicado em março.
A previsão da OCDE para o crescimento mundial é mais baixa em relação às avançadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em abril e pela Comissão Europeia (CE) em maio.
Mais otimismo sobre EUA e Zona Euro
A OCDE avaliou, agora, melhor os efeitos da guerra comercial iniciada no verão de 2018 entre as duas maiores economias do mundo e ficou mais pessimista do que há dois meses sobre o andamento da economia mundial e de duas grandes economias do G20, o Japão e o Brasil.
Mas, paradoxalmente, revelou-se mais otimista em relação aos EUA, à Zona Euro, e em particular à Alemanha e à Itália. Para o espaço da moeda única, a OCDE subiu a previsão de 1% para 1,2% em 2019 e de 1,2% para 1,4% no ano seguinte. Para a Alemanha, considera, agora, que a aceleração em 2020 vai ser maior e que a Itália não entrará em recessão em 2019.
No caso dos EUA, as previsões para 2019 e 2020 são as mais altas entre todas as organizações: 2,8% este ano (mais duas décimas do que apontava em março), face a 2,3% por parte do FMI e 2,4% por parte de Bruxelas; e 2,3% no próximo ano face a 1,9% das outras duas entidades.
No caso de Portugal, a OCDE reviu em baixa o crescimento para 2019, cortando três décimas na previsão, baixando de 2,1% para 1,8%, uma décima abaixo da avançada por Mário Centeno no Programa de Estabilidade 2019-2023 enviado para Bruxelas. Mas a organização mantém a previsão de 1,9% para 2020, similar à do governo português.
Comércio mundial abranda muito
Onde o atual clima de guerra comercial se vai sentir mais é, naturalmente, no comércio mundial. O seu ritmo de crescimento vai cair este ano para 2%, face a uma média anual de 3,7% entre 2011 e 2018. Ainda em 2017, ele crescia a um ritmo de 5,5% e no ano passado aumentou 3,9%. A OCDE sublinha inclusive que o crescimento no primeiro trimestre de 2019 foi de 0,75%.
Onde o abrandamento nas trocas mundiais ainda é mais nítido é na intensidade do comércio. Este indicador, usado pelos economistas da OCDE, desceu de 2,14 entre 1987 e 2007, antes da crise financeira mundial, para 1,25 entre 2012 e 2018 e poderá cair para 0,8 em 2019. A recuperação em 2020 será para 1. Só rácios acima de 1 indicam que a relação comercial é intensa.
Os economistas da organização sublinham, no entanto, que as previsões que avançam ainda não tomam em consideração os efeitos da escalada na guerra comercial em maio nem uma evolução para uma guerra comercial total entre as duas maiores potências. Admitem também que o Brexit vai ser ‘suave’.
Guerra comercial total corta 0,7% no PIB mundial
Mas tudo pode piorar. E de um crescimento medíocre pode evoluir-se rapidamente para um crescimento péssimo.
Com base no seu modelo macroeconómico, a OCDE simula os efeitos negativos no crescimento mundial das medidas entretanto tomadas em maio pelos EUA e da retaliação que entrará em vigor em junho por parte da China e adiciona-lhe uma escalada, eventualmente a partir de julho, para uma guerra comercial total entre as duas potências e uma subida do prémio de risco global de 50 pontos-base (0,5 pontos percentuais).
O efeito é significativo: uma quebra acumulada de 0,7% do PIB mundial em 2021 e 2022 e um arrefecimento de 1,5% no ritmo de crescimento do comércio mundial. Em termos de efeitos acumulados, mais próximos, de 2019 a 2021, o corte poderá ser de 0,6% do PIB.
Se, ainda por cima, houver um choque no crescimento da China, o efeito acumulado global ainda será pior: entre 0,8% e 0,9% do PIB mundial por ano nos dois primeiros anos de impacto dessa conjuntura ainda mais desfavorável.