Economia

Faria de Oliveira: “Quando chegámos à Caixa havia 4,5 mil milhões de euros de créditos garantidos por ações”

O presidente executivo da Caixa entre 2008 e 2010 afirmou que quando chegou ao banco público percebeu que havia um conjunto de problemas relativos à compra de ações a crédito

TIAGO PETINGA/Lusa

Faria de Oliveira referiu esta sexta-feira na comissão parlamentar de inquérito à CGD que quando foi convidado para a presidência da Caixa estava em Espanha e "só muito remotamente acompanhava o que se passava em Portugal". Por isso não estava ao corrente do que se passava com os créditos de Joe Berardo.

Contudo, afirma, "mal começámos a exercer funções na CGD, logo percebemos que havia problemas de desvalorização de ações decorrentes de financiamentos, nomeadamente no BCP", acrescentando que teve de minorar as perdas: "Foi o que fizemos a todo um conjunto de créditos ". E referiu mesmo que quando chegou à liderança da Caixa "havia 4,5 mil milhões de euros de créditos garantidos por ações". Embora sublinhe que apenas parte deste montante não estava a ser cumprido.

"A nossa ação prioritária foi pedir o reforço de garantias", e explica "foi o que fizemos com o empresário Joe Berardo quando este concedeu um aval pessoal para reforço de garantias", em meados de 2008.

Confrontado com um crédito de 38 milhões de euros concedido a Berardo durante o seu mandato, Faria de Oliveira justifica que "aconteceu no meu mandato mas esses 38 milhões de euros faziam parte de uma linha de crédito ainda não utilizada de 350 milhões de euros. Havia um direito contratual e para assegurar maiores garantias foi pedido que o empresário concedesse um aval pessoal". Face ao incumprimento em maio de Berardo no pagamento de juros, Faria de Oliveira afirma que o primeiro incumprimento registado pela Fundação Berardo e a Metalgest, detida por Berardo, foi em novembro de 2008. E quando em 2010 voltou a haver outro incumprimento no pagamento de juros, a CGD, o BCP e o BES (hoje Novo Banco) firmaram um acordo trilateral, na sequência do qual os três bancos vão discutir em tribunal a recuperação do que foi dado como garantia, ou seja, títulos da Associação Berardo. Isto depois de se ter chegado ao fim da estrada já que "em 2014 esgotaram-se as ações do BCP (em carteira nos bancos para venda) e de se ter tentado vários acordos de reestruturação sem sucesso.

Sobre a Artlant , Faria de Oliveira veio dizer que se tratou de uma operação de forte componente exportadora, mas remete para Jorge Tomé, ex-administrador da sua equipa à época, para melhores explicações sobre a "bondade do projeto", ou seja, a construção de uma fábrica da La Seda em Sines. "Tratava-se de um projeto estruturante e que justificava o investimento" mas a verdade é que este "aconteceu num momento terrível durante a crise financeira global". E o negócio acabou por correr mal e ditou elevadas perdas. No total cerca de 500 milhões de euros.

Faria de Oliveira lamenta o insucesso do projeto dizendo que "ninguém tem culpa da crise. Correu mal e infelizmente a crise durou mais tempo". E acrescentou: "Isso não pode ser escamoteado".