O ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Fernando Faria de Oliveira, começou a sua audição junto dos deputados esta sexta-feira a jogar à defesa. Afirmou que as conclusões do relatório da auditora EY são "grosseiras" e afirmou que o mandato a que presidiu (2008-2010) foi marcado por "uma das maiores crises financeiras de sempre", cujo contexto assume uma "relevância indescutível" e que o relatório da auditoria da EY tem "dezenas de inconsistências e erros, detetados através da simples leitura e análise do documento".
Elencou uma lista com algumas das inconsistências ou mesmo inverdades que diz ter detetado. A começar pelo facto de a originação dos créditos não estar em várias situações correta, de não haver fundamentação "credível e justificada" quando a EY diz que houve exceções às normas internas da Caixa, entre outras.
Faria de Oliveira refere mesmo que a auditoria da EY "enferma de inúmeros e inaceitáveis vícios de forma e erros de facto, ao esquecer o contexto macroeconómico e regulamentar". Além disso acusa a mesma de não distinguir "suficientemente os diferentes mandatos ao longo do período em análise".
E puxando a brasa à sua sardinha refere que no seu mandato "foram dados passos decisivos na adoção das melhores práticas de gestão de risco".
Isto depois de dizer que nem os bancos em Portugal nem no estrangeiro "documentavam em ata a justificação de qualquer discrepância na decisão do Conselho de Crédito Alargado face ao parecer técnico da Direção de Risco", uma das críticas feitas pela auditoria à originação e aprovação dos créditos que geraram perdas de mais de 1000 milhões de euros ao banco público entre 2000 e 2015.
Durante a audição referiu ainda que "as duas únicas operações do TOP 25 cuja originação é do meu mandato são Projetos de Interesse Nacional" que foram após a sua aprovação "afetados por fatores exógenos e inesperados" que eram "difíceis de prever à data da sua concessão". São eles a Artlant (fábrica da La Seda em Sines) e a Pescanova.
Faria de Oliveira afirmou que no TOP 25 de perdas por imparidades do relatório da EY, o valor da exposição das imparidades nas operações originadas antes de 2008-2010 ascendeu a 1,7 mil milhões de euros, ou seja, 80% do total.
Já quanto às operações originadas durante o seu mandato, o valor da exposição ascendeu "a 376 milhões de euros, o que representou 17,6% do total do Top 25". E em relação às operações de crédito originadas depois do triénio 2008-2010 o valor da exposição ascendeu "a 52 milhões de euros , o que representa 2,6% face ao valor total das perdas acumuladas".
Faria de Oliveira fez referência ainda a cinco operações de crédito que fazem parte do TOP 25 herdadas pelo seu mandato que foram sujeitas a um "processo de seguimento especial , reestruturação ou execução".
O ex-presidente da Caixa, que em 2012 assumiu a presidência da Associação Portuguesa de Bancos, afirma ainda não ter tido por parte dos auditores e revisores oficiais de contas quaisquer alertas ou enfâses.