Armando Vara chegou a administrador da Caixa Geral de Depósitos, de onde era quadro, cinco anos depois de ter saído do Governo de António Guterres sob pressão do então Presidente da República, Jorge Sampaio. No processo de avaliação da sua adequação para a administração de uma instituição financeira, em 2005, o Banco de Portugal não tentou perceber quais os motivos para que, anos antes, o candidato tivesse sido afastado do Executivo.
“Não faço essa comparação”. Vítor Constâncio, ouvido na segunda comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos nesta quinta-feira, 28 de março, não aceitou que os argumentos que possam ter levado Armando Vara a sair do Governo – relacionadas com dúvidas sobre a sua Fundação para Prevenção e Segurança Rodoviária – fossem suficientes para impedir que chegasse ao conselho de administração de um banco.
Desde logo, porque o então governador do Banco de Portugal, ex-secretário-geral do Partido Socialista, não tinha informação de quais as causas daquela demissão em 2000. “Não tenho documentação sobre o que está a dizer de que o Presidente da República, de alguma forma, atuou para o afastamento do Dr. Armando Vara. Veio nos jornais, porventura. Não tive conhecimento direto disso”.
“Podia, podia. Mas não o fiz”. Foi o que disse Constâncio quando questionado pelo deputado social-democrata Duarte Marques sobre se telefonou a Jorge Sampaio para saber qual o motivo para que Vara tivesse saído do Governo.
Mas mesmo que tivesse telefonado e tivesse sido informado das suspeitas de Sampaio, era possível que nada fizesse. “As decisões de idoneidade não podem ser tomadas meramente com indícios de coisas que não estão sob decisões condenatórias", defendeu-se Vítor Constâncio. Só seria possível pela "existência de casos em tribunal por essa pessoa [estar] como arguido. Não existia isso na altura”.
Em 2005, Armando Vara foi para administrador da CGD, na equipa presidida por Carlos Santos Ferreira, que foi escolhida por Fernando Teixeira dos Santos, do Governo liderado pelo socialista José Sócrates. Em 2008, Vara passou a vice-presidente do BCP, acompanhando a ida de Santos Ferreira para a liderança executiva do banco.
“Não existia isso [constituição como arguido] na altura. Mais tarde houve. E mais tarde o Banco de Portugal atuou e a pessoa resolveu afastar-se antes de ter a conclusão do processo”, lembrou Constâncio.
Em 2010, Vara foi constituído arguido no caso Face Oculta em que houve investigação à prática de crimes como branqueamento de capitais e corrupção. Demitiu-se das funções do banco naquele ano. Nunca mais voltaria à banca. Em 2019, após vários recursos, acabou por ser preso, condenado por tráfico de influências.
Está também acusado pelo Ministério Público no âmbito da Operação Marquês, nomeadamente por conluio no negócio de Vale do Lobo, enquanto administrador da CGD.