Foi com lucros que a associação mutualista do Montepio terminou o ano passado: o resultado líquido foi positivo, de 1,6 milhões de euros. O valor representa uma quebra expressiva face aos 588 milhões obtidos em 2017, segundo revelam os números inicialmente noticiados pelo Eco e a que o Expresso teve acesso. E fica abaixo da estimativa feita pela própria instituição, presidida por António Tomás Correia, em dezembro passado.
Impostos: esta é a rubrica que explica o resultado positivo do Montepio. Em 2018, como em 2017. Tudo por conta da perda de isenção fiscal da associação, que ocorreu no ano passado. Quando deixou de ser isenta de IRC, foram reconhecidos ativos por impostos diferidos que, de forma simplista, deram um ganho no curto prazo, mas que se vai desfazendo com o passar do tempo. Na prática, devem-se, por exemplo, ao facto de ter produtos de poupança em que o reconhecimento contabilístico é diferente daquele que é o tratamento fiscal. Assim, foram reconhecidos à cabeça, no ano passado, 809 milhões de euros destes ativos por impostos diferidos.
Só que, em 2018, em vez de haver já um abatimento de impostos diferidos, como previa a associação, há aqui um novo reconhecimento adicional. Assim, em vez de reconhecer um impacto negativo de 16 milhões de euros na fatura fiscal, deu-se um efeito positivo, na ordem dos 8 milhões de euros. E, assim, vieram os lucros.
Isto porque a atividade operacional da maior associação mutualista do país voltou a ser negativa. O resultado antes de impostos foi de 6,6 milhões de euros negativos, que advieram do facto de os resultados inerentes aos associados ter sido ainda mais negativa em 2018 do que no ano anterior (-21,9 milhões). Mas como houve o tal impacto positivo na rubrica dos impostos diferidos, o resultado líquido cifrou-se num lucro de 1,6 milhões de euros.
Os resultados de 2018 ficaram abaixo daquela que foi a estimativa da associação em dezembro, quando foi aprovado o plano de ação e orçamento para o presente ano e que apontava para um lucro superior a 1,7 milhões de euros. E também o resultado antes de impostos é muito diferente do que o esperado: Tomás Correia antecipava um valor positivo de 18 milhões de euros.
Esta situação não é muito diferente do que aconteceu no ano passado: se não fosse a alteração da situação fiscal, com implicações contabilísticas, os resultados da mutualista tinham sido de perdas de 221 milhões de euros em 2017. Mas o reconhecimento de impostos diferidos de 809 milhões de euros permitiu, então, a divulgação de um lucro de 588 milhões.
Os resultados da mutualista, preparados pelo conselho de administração, ainda têm de ser submetidos ao conselho geral, e são divulgados numa altura de tensão em torno da instituição, já que o seu presidente, António Tomás Correia, foi condenado num processo do Banco de Portugal, por ilícitos cometidos à frente da caixa económica do grupo mutualista, e ainda não há garantia sobre se a sua idoneidade será reavaliada pelo Governo ou pelo supervisor financeiro, a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF).
Estas são as contas da associação, presidida por António Tomás Correia, sendo que continuam por conhecer os resultados da sua instituição financeira, o Banco Montepio, que tem Carlos Tavares à sua frente.