Economia

Braço-de-ferro: Álvaro Santos Pereira sem palco na apresentação de relatório da OCDE

A tensão entre o Governo e a OCDE a propósito da inclusão da corrupção no mais recente estudo sobre Portugal baixou e, na próxima segunda-feira, haverá conferência de imprensa conjunta para apresentar o polémico Economic Survey. Mas, Álvaro Santos Pereira, não só não estará presente na segunda-feira como acaba de desmarcar uma conferência na Ordem dos Economistas, onde ia apresentar as conclusões do seu trabalho
Nuno Fox

Esta segunda-feira o Governo aparecerá ao lado de Angel Gurria, secretário-geral da OCDE, na apresentação do Economic Survey sobre Portugal, o polémico relatório onde o organismo internacional analisa o fenómeno da corrupção em Portugal. Mas Álvaro Santos Pereira, responsável pela condução do estudo e pela escolha dos temas, não terá palco. O ex-ministro da economia não estará sequer presente na cerimónia oficial, e acaba de desmarcar um evento em parceria com a Ordem dos Economistas onde, na terça-feira, ia apresentar as conclusões do seu trabalho.

Depois de um braço-de-ferro entre Lisboa e Paris, em que o Governo chegou a admitir demarcar-se do relatório produzido pela OCDE, o Executivo acabou por dar-se por satisfeito. A mensagem final do documento é considerada globalmente positiva para Portugal e, apesar de o impacto na economia do sistema de justiça e da corrupção continuarem a constar na versão final, a forma como o tema é abordado é considerada mais sóbria do que a das versões iniciais, sabe o Expresso.

É isso que explica que não só não haja uma demarcação pública oficial do relatório, como o ministro dos Negócios Estrangeiros chegou a admitir ao Expresso, como na próxima segunda-feira Pedro Siza Vieira (Ministro da Economia) e Ricardo Mourinho Félix (secretário de Estado das Finanças) apareçam ao lado do secretário-geral da OCDE na apresentação oficial do documento.

De fora do alinhamento de intervenções - e do próprio evento - está Álvaro Santos Pereira, responsável pelo departamento de estudo de países da OCDE, que escolheu os temas setoriais a analisar no relatório e que conduziu a recolha de opiniões em Portugal durante o trabalho de campo.

O ex-ministro da economia tinha combinado fazer uma intervenção sobre o relatório um dia depois, em parceria com a Ordem dos Economistas, ao lado do seu colega Ben Westmore, mas aí sem a presença de qualquer membro do Governo. Contudo a iniciativa foi desmarcada esta quinta-feira, com o ex-ministro a alegar motivos de agenda.

Questionada sobre os motivos do cancelamento deste encontro de terça-feira, fonte oficial da OCDE diz ao Expresso que a apresentação pública com o Governo e o seu secretário-geral se mantém, na segunda-feira, e que as questões técnicas serão respondidas por Ben Westmore, economista para Portugal. E adianta que "foi decidido que não eram necessários dois eventos sobre a mesma publicação".

Mais ainda, a mesma fonte revela que Álvaro Santos Pereira "não estará" na cerimónia oficial de lançamento do relatório, na próxima segunda-feira. Isto quando lidera o departamento responsável pela sua preparação e elaboração.

O Economic Survey é um relatório que a OCDE produz a cada dois anos sobre Portugal, mas a próxima edição está apimentada pelo tema da corrupção e pelo braço-de-ferro que opôs o Governo a Álvaro Santos Pereira.

Como tivemos oportunidade de avançar, o Governo entendia não haver razão para que se desse especial ênfase à corrupção no caso específico português e opunha-se à divulgação de análises que considerava não terem base factual – nomeadamente dados assentes em perceções e opiniões. Do lado da OCDE garantia-se que Portugal tinha o mesmo tratamento que os demais países.

A tensão, se não desapareceu, pelo menos baixou, ao ponto de o Governo aceitar agora tirar uma fotografia conjunta - com Angel Gurria.

(Notícia atualizada às 19:00, com os esclarecimentos da OCDE sobre o cancelamento do evento de apresentação do Economic Survey a Portugal e a informação de que Santos Pereira não estará presente na cerimónia oficial de lançamento do relatório)