Elad Dror é israelita e, em 2010, decidiu vir viver para o Porto. A altura não foi a melhor. Talvez tenha sido a pior de sempre dos últimos anos. Pouco depois Portugal teve de pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e durante quatro anos viveu em crise, com baixos níveis de investimento e de consumo, cortes nos salários e um elevado nível de desemprego. Mas Elad não se foi embora. Em 2011, constituiu a Beyond Fresh com Simon Danino, a empresa-mãe das lojas de acessórios e reparação de telemóveis, a Smart Talk e a Dr. Smart.
Foi neste negócio que Elad Drod se concentrou, mas não por muito tempo. “Em 2012 começámos a ter reuniões com a Câmara”, conta o empresário israelita, mas só três anos mais tarde, em 2015, é que, juntamente com Nir Shalom, fundou a Fortera, uma empresa de promoção imobiliária “100% portuguesa, mas de capitais israelitas”.
E desta vez, a altura não podia ter sido a melhor. A troika tinha saído de Portugal e o turismo e o imobiliário estavam a começar a crescer, no segundo caso, à boleia dos vistos gold e dos benefícios fiscais para não-residentes.
Os primeiros terrenos e edifícios, sempre no Grande Porto, foram comprados nesse ano e desde então já aplicaram €25 milhões em aquisições, estando agora com 13 projetos em fase de licenciamento na Câmara, entre reabilitações e construções novas. Ou seja, o plano para os próximos cinco anos passa por investir em imobiliário um mínimo de €50 milhões. A isto junta-se um investimento, também mínimo e a cinco anos, de €150 milhões, em hotéis que vão desenvolver juntamente com um grupo de viagens israelita. “Fechámos essa parceria há um ano e o objetivo é fazer três a quatro unidades de grande escala”, explica Elad Dror.
Contas feitas, a Fortera vai investir no Grande Porto um mínimo de €200 milhões nos próximos cinco anos em habitação e hotelaria. “As coisas estão a andar muito depressa aqui e temos de aproveitar agora porque este ritmo não vai durar sempre, só mais uns três ou quatro anos e depois estabiliza. Hoje são 13 projetos, mas amanhã já podem ser 15. Queremos comprar mais edifícios e temos acesso a capital”, diz Elad Dror em entrevista ao Expresso.
De facto, tal como outros investidores de destinos menos tradicionais, por exemplo da África do Sul ou do Qatar, também os israelitas começaram a olhar para o turismo e imobiliário português “há uns dois ou três anos”. Mas não foi só porque o mercado estava a crescer.
“Telavive é uma das dez cidades mais caras do mundo em termos de imobiliário e a determinada altura o Governo decidiu intervir e bloqueou a subida dos preços, afastando os investidores. Mas eles tinham muito dinheiro para investir e então começaram a olhar para outros destinos”, explica Elad Dror.
Mas, “não venho para aqui para comprar e especular”, garante. “Vivo aqui, passei pela crise como os portugueses e quase me sinto português. Estou aqui para construir casas e hotéis e para ficar a longo prazo”, afirma.
O QUE JÁ ESTÁ EM CURSO
Dos 13 projetos imobiliários em licenciamento há uns mais avançados do que outros (ver coluna ao lado). Um deles é o Espinho One, um investimento de €7,5 milhões, cujas obras arrancam neste mês de outubro e as vendas a 1 de novembro, mas segundo Elad Dror, já têm 25% dos 38 apartamentos pré-reservados, mesmo com a conclusão prevista apenas para 2019.
O outro projeto a avançar é o Boavista One, um investimento de €1,3 milhões e data de conclusão prevista para 2019. Outro ainda é o Cais das Fontinhas, um empreendimento que a Fortera comprou já em curso e vai agora terminar por €1,7 milhões, estando previsto arrancar com as vendas em dezembro deste ano.
Há ainda o 5 de Outubro, um empreendimento de casas pequenas, cujas obras começam em 2019 e ficam prontas em 2020, e que vai ser vendido a investidores para depois arrendarem as casas. E também o B-Well, um boutique hotel que vai custar €4 milhões, ou mais um hotel de 80 quartos no centro do Porto, um investimento de €10 milhões.
Mais para a frente vão também reabilitar alguns edifícios que compraram na zona da Campanhã e ainda fazer de raiz o Espinho Aqua que custará €2,6 milhões. E vão também avançar com os hotéis a fazer com o parceiro israelita, duas reabilitações de 130 e 250 quartos que vão custar €52 milhões.
PORQUÊ O PORTO?
Para Elad Dror a resposta é óbvia: “Há mais oportunidades aqui. Toda a gente quer ir para Lisboa e estamos a tentar não ir para onde toda a gente quer ir. Além disso, lá os preços já estão fora de proporção, aqui ainda há margem para os preços subirem”.
A capital está, pelo menos por enquanto, fora de questão. Até porque tudo corre bem no Porto e Elad até se orgulha de estar a contribuir para o desenvolvimento da cidade com a reabilitação de edifícios, que entende ser muito necessária no país. “Todos os prédios que comprámos estavam muito danificados e foram todos para demolir e fazer de novo. Tive tetos a cair em cima de mim. E a Câmara tem sido incrível e ajudou muito. Não tivemos problemas de licenciamento. É verdade que demora algum tempo, uns seis a nove meses até saírem as licenças, mas em Telavive demora dois anos. Isto dá-nos uma grande perspetiva. Só conhecemos o céu depois de ter estado no inferno”, remata.