Economia

Os novos estrategos dos negócios

Mudança: Os CFO são responsáveis por reportar o passado, gerir o presente e criar o futuro. A sua influência é cada vez mais sentida

Os desafios da gestão financeira e performance foram debatidos na quarta sessão de “Ativar o Futuro”, moderada por João Vieira Pereira (diretor-adjunto do Expresso) e que contou com Rita Piçarra (Microsoft), José Luís Pereira Coutinho (Banco CTT), José Luís Biscaia (Coordenação Nacional para a Reforma dos Cuidados de Saúde) e Pedro Fino (Grupo Pestana) (da esq. para a dir.)
NUNO FOX

Fátima Ferrão

A tradicional folha de Excel preenchia, até há poucos anos, o dia a dia dos profissionais da área financeira e era ferramenta de produtividade para gerir as operações contabilísticas das empresas. Hoje, continua a ser de utilização obrigatória para quem faz a gestão de despesas e receitas, mas com um potencial muito mais abrangente. De simples folha de cálculo, o Excel cresceu e ganhou maturidade para trabalhar em conjunto com ferramentas de elevada produtividade, como business intelligence e outras analíticas, que escrutinam os dados a fundo e deles retiram rápidas conclusões, antecipando necessidades e tendências. O resultado para as empresas são decisões mais informadas e focadas.

Isto significa não apenas uma mudança no paradigma tecnológico mas também na maneira como os financeiros fazem o seu trabalho. Com estas ferramentas, têm acesso seguro e imediato a dados internos e externos, de forma visual e simplificada, a partir de qualquer dispositivo, em qualquer lugar. Estes dados têm impacto direto no negócio e permitem decidir e agir com maior rapidez. “Antes, 75% do tempo de um analista de dados era passado a compilá-los”, afirma Rita Piçarra, CFO (Chief Financial Officer) da Microsoft Portugal. Hoje, acrescenta, “os dados entram automaticamente nos sistemas e criam relatórios e todo o tipo de informação em tempo real”.

Rita Piçarra falava na abertura de mais uma sessão de “Ativar o Futuro”, desta vez subordinada ao tema da gestão financeira e performance, que decorreu esta semana no Edifício Impresa. “O CFO ganhou importância e tem hoje uma visão global do negócio”, salientou em jeito de mote para os convidados que marcaram presença nesta conversa, moderada por João Vieira Pereira, diretor-adjunto do Expresso.

Banca, Saúde e Turismo foram os sectores representados por José Luís Pereira Coutinho, CEO do Banco CTT, José Luís Biscaia, da Coordenação Nacional para a Reforma dos Cuidados de Saúde, e Pedro Fino, CFO do Grupo Pestana. Tecnologias como a inteligência artificial e o blockchain foram unanimemente referidas como essenciais para a gestão dos dados financeiros nas empresas, independentemente do sector em que atuam.

Evitar más decisões
A rapidez com que os dados são produzidos atualmente obriga os gestores a estarem constantemente informados e atentos sobre o que se passa nas suas organizações e também nos mercados em que atuam. E é aqui que entra o Os desafios da gestão financeira e performance foram debatidos na quarta sessão de “Ativar o Futuro”, moderada por João Vieira Pereira (diretor-adjunto do Expresso) e que contou com Rita Piçarra (Microsoft), José Luís Pereira Coutinho (Banco CTT), José Luís Biscaia (Coordenação Nacional para a Reforma dos Cuidados de Saúde) e Pedro Fino (Grupo Pestana) (da esq. para a dir.) CFO. É ele quem tem hoje a responsabilidade de recorrer a ferramentas que permitam analisar os dados e produzir relatórios de forma imediata, tomando ele próprio decisões estratégicas ou dando o seu parecer informado à gestão de topo. “Estas ferramentas eliminam os intermediários e aumentam a eficiência do utilizador e das empresas”, diz Rita Piçarra.

No futuro, acredita esta CFO, “tarefas repetitivas serão totalmente automatizadas”. Como resultado disso haverá um desaparecimento gradual de algumas funções dentro das empresas. “Muitas serão substituídas por outras, mais estratégicas e com forte impacto no negócio”, reforça.

Na opinião dos participantes, esta ainda não é uma realidade em Portugal, mas acreditam que o país está no bom caminho. As empresas têm de adaptar-se e investir na modernização dos seus sistemas e na formação dos seus recursos. “A este nível, o Banco CTT leva alguma vantagem face aos concorrentes”, assegura José Luís Pereira Coutinho.

Transformar os dados
Lançada do zero e ainda a dar os primeiros passos, a instituição foi pensada à medida da realidade atual. Ao contrário do que acontece noutros bancos, obrigados a modernizar sistemas, no CTT tudo foi pensado de raiz. “As TI ajudam muito, criando processos e produtos muito mais simples”, salienta Pereira Coutinho. O CEO garante que 80% das contas são abertas no próprio dia, 90% delas assentes em processos completamente digitais. No entanto, alerta, “é fundamental criar um bom modelo de governação dos dados, sem o qual nada funciona”.

Na Saúde, como explica José Luís Biscaia, a tecnologia ajuda a libertar tempo aos médicos — que são também gestores —, para poderem dar atenção aos doentes. Contudo, o grande desafio continua a ser transformar as elevadas quantidades de dados, espalhadas por diferentes sistemas, em conhecimento válido, por um lado. Por outro, explica, “é preciso capacitar os doentes para tomarem decisões mais informadas sobre a sua saúde”.

Já no Turismo, mais concretamente no grupo para o qual trabalha, “a área financeira é já hoje fundamental para apoiar toda a operação”, diz Pedro Fino. “A informação é disponibilizada a todo o momento a quem decide em cada unidade hoteleira, e são tomadas medidas em tempo real”, acrescenta. Os clientes são também mais exigentes, “o que obriga a uma capacidade de resposta sempre imediata”.

Contas dos Financeiros

75%
dos CFO ocupam mais de 50% do seu tempo com aspetos estratégicos do negócio

15
dias é o tempo que as organizações de topo demoram atualmente, em média, para apresentar os seus resultados financeiros. Há dez anos, este período era de 25 dias

6 tendências que estão a mudar a área financeira

O CFO está a ganhar importância nas organizações
O papel do CFO é cada vez mais abrangente e envolve já hoje funções como a gestão de TI, operações e responsabilidades estratégicas do negócio.

A força de trabalho está a mudar
Os millennials têm diferentes valores e estilos de trabalho quando comparados com os colegas mais velhos. As novas tecnologias estão a permitir criar uma força de trabalho mais móvel.

Maior visibilidade
À medida que as novas tecnologias afinam a recolha de dados, aplicações como as analíticas avançadas estão a tornar o big data mais acessível, dando aos profissionais da área financeira uma maior visibilidade nas suas organizações.

Novas ‘dores de crescimento’
Conforme o negócio cresce, muitos profissionais da área financeira são obrigados a lidar com novos desafios, desde a gestão do desenvolvimento do negócio em complexos ambientes económicos, até à gestão de negócios que são agora mais globais.

Riscos emergentes
As novas responsabilidades vêm acompanhadas de novos riscos para os profissionais financeiros. Aqui incluem-se novos riscos de segurança informática, riscos da globalização e riscos associados às alterações do perfil da força de trabalho.

Regulação a evoluir
Novas regras e regulação estão a alterar a forma como os negócios e as empresas se relacionam com a área financeira, desencadeando novos desafios.

Expresso e Microsoft juntos em 2018 para discutir as principais questões tecnológicas para as PME e as grandes empresas em seis debates. Em maio falaremos dos consumidores e em junho sobre a captação de talentos. Saiba mais e reveja os debates no nosso site

Textos originalmente publicados no Expresso de 21 de abril de 2018