Cláudia Goya assumiu a presidência executiva da MEO/ Portugal Telecom num momento de grande efervescência neste operador. Tinha de lidar com a conflitualidade laboral — com uma greve marcada contra a transferências de trabalhadores para outras empresas satélites — e o lançamento da marca Altice, em detrimento das marcas históricas Portugal Telecom e MEO.
Para esta engenheira física de 46 anos, formada no I.S.Técnico, com reputação de ser brilhante em números e uma negociadora implacável, a liderança da Altice Portugal era uma prova de fogo. Pela primeira vez geria uma grande empresa com perto de 10 mil trabalhadores e em processo de reestruturação.
A sua grande determinação e a fama de grande capacidade de trabalho — atributos que os caça-talentos da Altice terão valorizado — vão ser importantes num momento em que terá negociações difíceis com os representantes dos trabalhadores. Também a sua experiência de marketing e comercial adquirida na suas passagens pela Procter & Gamble, Microsoft e Galp, poderá ser útil no lançamento da marca Altice junto dos consumidores portugueses.
Mas este temperamento aguerrido, segundo confidenciou ao Expresso quem a conhece do tempo em que trabalhou na Microsoft Portugal, também poderá virar-se contra si, uma vez que quando está envolvida em negociações delicadas e de maior tensão não costuma ser, por temperamento,"apaziguadora". E não é o tipo de pessoa que "cultiva os consensos". Outro ponto fraco, acrescentam, é a sua falta de conhecimento do mercado das telecomunicações, uma vez que a sua passagem como diretora de marketing na Oniway acabou por ser frustrante (este operador móvel nunca chegou a funcionar).
Cortar a direito
Esta faceta "menos diplomática" terá sido uma das razões que levou Cláudia Goya a estar apenas dois anos à frente da subsidiária portuguesa da Microsoft (de 2010 a 2012). Tem a seu favor ter apanhado o mercado português de tecnologias de informação em retração, devido à crise económica. E teve de iniciar a mudança do modelo de negócio tradicional de venda de software (licenças) para a nuvem (cloud). Mas gerou anticorpos. Para conseguir cumprir os objetivos de vendas e faturação da subsidiária portuguesa desencadeou um conjunto de auditorias contra a pirataria de software em grandes empresas (bancos) e Estado, que provocaram grande mal-estar junto destes grandes clientes.
Conflitos que terão acelerado a sua saída da Microsoft Portugal e a ida em 2012 para a Microsoft Brasil, onde assumiu o cargo de diretora de operações (Chief Operating Officer). Mas também na subsidiária brasileira a atuação de Cláudia Goya acabou por não ser linear, uma vez que dois anos depois deixou de desempenhar o cargo por ter havido um conflito judicial (que venceu) mas cujos contornos e razões ainda estão por esclarecer.
Por outro lado, a entrada de Cláudia Goya para presidente executiva da Altice Portugal destoou num sector em que as primeiras linhas de gestão são tradicionalmente ocupadas por homens. Cláudia Goya marcou um novo estilo e tirou partido da sua fotogenia, a exemplo do que aconteceu quando liderava a Microsoft Portugal. Nessa altura fez questão tirar um portefólio oficial de fotografias para poderem ser usadas pela imprensa. Para o efeito, reservou um quarto de hotel, contratou um fotógrafo profissional e levou parte do guarda-roupa de forma a poder oferecer um leque alargado de opções de fotografias.
Texto publicado na edição de 19 de julho de 2017 do Expresso Diário