Jeffrey Singer, psicólogo clínico contratado pela defesa de Renato Seabra, admitiu ontem que pode ter sido o homicídio de Carlos Castro a despoletar a psicose diagnosticada ao jovem nos hospitais em que passou posteriormente.
Durante um duro interrogatório de perto de três horas a Singer, a procuradora Maxine Rosenthal procurou desmontar a conclusão do psicólogo, de que Seabra não teve consciência do violento homicídio de 7 de janeiro de 2011, por estar num estado psicótico, apresentando justificação para que seja considerado não culpado.
"Tirar vida de alguém pode ser o fator de tensão que leva a uma quebra psicótica?", questionou Rosenthal. O psicólogo clínico respondeu afirmativamente, mas mantendo que Seabra não podia avaliar as consequências dos seus atos.
"Uma coisa é ser capaz de dizer 'eu estou a fazer isto', mas acho que ele não tinha total perceção do significado dos eventos porque estava ao serviço do seu sistema de ilusões", disse opsicólogo. "Mas ele sabia que estava a espancar Castro, não que estava a pisar numa almofada ou que estava a atirar um pó mágico.
"Pensamento delirante"
Sabia que estava a espancar um homem, sabia que estava a matá-lo, queria que parasse de respirar, correto?", questionou a procuradora, aludindo também às mutilações genitais de que a vítima foi alvo. "Depende de como define apreciar, mas tinha perceção das atividades que estava a encetar", respondeu o psicólogo.
Escudando-se em relatórios de médicos que avaliaram o jovem em 3 unidades psiquiátricas, afirma que na altura do crime, o jovem "estava em pensamento delirante, num episódio maníaco e desordembipolar com caraterísticas psicóticas graves" e, como tal, não deve ser considerado culpado.
A defesa argumenta que foi a doença mental a levar ao crime, após o qual o jovem se passeou pelas ruas da cidade num estado de alucinação, tocando nas pessoas.
A acusação sustenta que foi "raiva, desilusão e frustração" a levar Renato Seabra a matar o colunista social, diretamente ligada ao fim da relação.
Durante a manhã, Rosenthal sugeriu que Renato Seabra fingiu ter problemas mentais após encontros com o seu advogado.
Nas últimas duas horas, pôs em causa a conclusão de Singer de que tenha havido sinais da eclosão do episódio psicótico antes do crime, como ilusões, e sugeriu que a única prova nesse sentido éo próprio relato de Seabra ao psicólogo.
A procuradora lembrou ainda que duas testemunhas relatam que, após o jantar em que Seabra teve um comportamento estranho, propondo brindes quando o ambiente era de tensão à mesa, o jovem foipara casa em silêncio e que os vídeos de vigilância no hotel não mostram qualquer agitação.
Igualmente, disse, a videovigilância do Hotel Intercontinental da última refeição entre ambos mostra-os frente a frente, em silêncio. "Mas isso não mostraria o que se passa entre os ouvidos" de Seabra, contrapôs Singer.
A tese da procuradora é que não houve provas de loucura antes do crime e que aquilo que leva ao diagnóstico de psicótico ocorreu durante ou após o crime.
"Jovem ingénuo"
Questionou também a caraterização, no relatório de Singer, de Seabra como "um jovem ingénuo" que durante a estadia em Nova Iorque se sentiu "aprisionado, sozinho e aterrorizado", levando à tensão que desencadeou a psicose, uma vez que este admitiu que mantinha uma relação com Castro apenas por interesse profissional.
Para tentar demonstrar que houve consciência dos atos, Rosenthal citou também uma nota de 7 de maio de 2012, feita na ala psiquiátrica da prisão onde Seabra se encontra, em que o jovem diz que"está na prisão por ter feito uma escolha má". Sempre em formato de perguntas, levou o psicólogo a responder afirmativamente que pessoas com doença mental "tomam decisões e agem em consonância" e mesmo aquelas com psicose "podem diferenciaro certo do errado".
"Usou uma e outra vez o termo 'louco'. Mas alguém pode ser louco e saber distinguir o certo e o errado ainda assim. Uma pessoa pode fazer coisas loucas e saber que é errado fazê-las. Eindependentemente do número de vezes que se usa a palavra 'louco', o termo não satisfaz o critério de falta de responsabilidade ao abrigo da lei", disse.