Têm todos defeitos para serem das piores fotografias de uma reportagem. Estão tremidas, desfocadas, com uma luz difusa, e para uma reportagem completa não se pode dizer que dêem uma grande possibilidade de escolha, pois são apenas 12 fotografias. Mesmo assim são consideradas - apesar de todos estes defeitos técnicos e editoriais -, das melhores imagens da história do fotojornalismo.
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Trata-se das fotografias míticas do mítico Robert Capa, o mesmo que imortalizara a morte em combate do republicano espanhol na Guerra Civil, o mesmo que dois anos depois do desembarque dos americanos na Normandia, fundou a agência fotográfica Magnum.
A história dessa dúzia de fotografias, também elas sobreviventes da guerra, é contada pelo então director de fotografia da delegação da " LIFE" em Londres, 24 Upper Street Wimpole, John G. Morris no seu livro "Des Hommes d`Images". Morris descreve com dramatismo e humor os dias difíceis em Londres, entre bombardeamentos persistentes e a necessidade de furar o controle da censura, o arranjar formas de fazer chegar a Nova York fotografias da luta contra o domínio nazi. A " LIFE" tinha a trabalhar para a delegação em Londres os então mais cotados fotojornalistas do mercado. Destacavam-se Bob Landry, George Rodger, Frank Scherschel e o já famoso Robert Capa.A preparação da reportagem do desembarque na Normandia foi meticulosamente preparada pela "LIFE", que fazia questão em concorrer taco-a-taco com as agências noticiosas, o que deixava algum mal estar junto destas. A "LIFE" considerava que as suas fotografias deveriam ser as melhores e as mais exclusivas. Por isso destacou seis fotógrafos, contra outros seis das outras três agências presentes.
Com a influência política que a " LIFE" tinha, e graças ao prestígio de fotógrafos seus junto das entidades militares (caso de David Seymour que chegou a trabalhar como sargento-fotógrafo para a Força Aérea americana), John G. Morris conseguiu que Robert Capa pudesse entrar a bordo com o 16º Regimento da 1ª divisão, designada de "Easy Red" numa operação com o código "Omaha".Foi um desembarque dramático, segundo relatou Capa, e esses minutos onde havia mortos e feridos por todo o lado, foram testemunhados pela câmara fotográfica Leica de Capa em quatro filmes de 36 fotos cada um.
Em Londres, John G. Morris, ansiava pelas fotografias, mas naquele dia não se soube nada. Nem se havia fotografias, nem no que teria acontecido a Robert Capa. Só ao fim da tarde do dia seguinte, chegou um motociclista com um pacote à sede da "LIFE". Havia um nervosismo enorme. Havia que revelar rápido os filmes, imprimir as fotos e ir a correr com elas à censura para depois poderem seguir para a sede de "LIFE" em Nova York.
Os filmes começam a ser revelados por um assistente (diz-se que seria o estagiário David Burnett, hoje um decano do fotojornalismo) que decide fechar a porta do laboratório enquanto a estufa secava os filmes. Passados minutos, o estagiário corre para Morris e diz-lhe apavorado que os filmes derreteram com o excessivo calor da estufa. Morris constata que três dos filmes estão esturricados mas que no quarto se conseguem salvar 12 fotografias, aquelas que hoje conhecemos.
A cena é tão desagradável que Robert Capa nunca quis comentar com John G. Morris este acidente. Estas fotos ficaram para a História como testemunhos de um momento extraordinário. Há outras fotografias de outros fotógrafos de agência e mesmo da "LIFE", fotografias tecnicamente perfeitas e que até mostram bem todo o aparato militar mas que não têm a emoção nem o sentido da história das de Capa.