Os biocombustíveis são a solução para os problemas climáticos e energéticos do planeta, mas também um instrumento eficaz para diminuir as desigualdades entre países ricos e pobres. Isto, caso os países ricos o permitam.
Esta foi a mensagem que o presidente do Brasil, pioneiro e potência mundial na produção e consumo desta energia alternativa, deixou hoje em Bruxelas, onde participou numa conferência sobre biocombustíveis, organizada pela Comissão Europeia.
Aos que acentuam os riscos associados a este combustível alternativo, Lula da Silva responde que o única coisa ruim que pode acontecer é os países africanos acabarem por conquistar a sua independência e a sua autonomia.
Lula da Silva foi a estrela da reunião, na qual participaram igualmente José Sócrates e Durão Barroso, durante a qual fez uma defesa apaixonada dos biocombustíveis, apresentou números de sucesso relativos ao seu país, procurou desfazer mitos sobre esta alternativa à gasolina e ainda teve tempo para atacar os países ricos por vedarem aos mais pobres esta possibilidade de desenvolvimento.
Lula começou por apresentar os dados que conferem ao seu país o estatuto de sumidade na matéria: redução em 40% do consumo de combustíveis fósseis importados; criação de mais de 6 milhões de postos de trabalho, directos e indirectos; produção de cereais gerou rendimentos, evitou o êxodo rural e impediu o crescimento anárquico das cidades; toda a gasolina utilizada no Brasil tem 25% de etanol; mais de 85% das viaturas fabricadas no Brasil podem funcionar alternativamente a gasolina e etanol.
O presidente brasileiro antecipou as críticas dos que apontam o dedo aos biocombustíveis por, devido à produção intensiva de cereais, terem um impacto negativo no ambiente e também nas condições de vida das populações, ao contribuírem para aumentar os custos dos alimentos.
Ao nível ambiental, os biocombustíveis contribuiram para reduzir as emissões de CO2 em 640 milhões de toneladas e Lula contrariou a ideia que existe oposição entre uma agricultura voltada para a produção de alimentos e outra orientada para a produção de energia: A fome diminui, no mesmo período em aumentou o uso dos biocombustíveis. Assim, o cultivo deste vegetal ocupa menos de 10% da área cultivada do país, muito distante da Amazónia (algo que Lula fez questão de agradecer à dupla portuguesa presente, por os seus antepassados, que introduziram a cana-de-açucar no país, não o terem feito na Amazónia) e, em algumas regiões, foi acompanhado por um incremento da produção agro-pecuária. E atirou: todos sabemos que não há escassez de alimentos no Mundo, mas escassez de renda capaz de garantir o acesso das populações mais pobres ao que comer.
Na parte final, Lula da Silva deixou os papéis do discurso para desafiar os europeu a olhar para os biocombustíveis com os olhos de um cidadão do Mundo, e não apenas com a lógica dos países desenvolvidos, onde as conquistas já foram feitas. Nesse caso, verão que em Africa, na Ásia, na América do Sul e Latina têm terra, têm sol, mas não conseguem plantar porque não têm financiamento, porque não têm acesso à tecnologia. E se a maior parte dos países menos desenvolvidos do mundo não tem recursos para explorar petróleo, em contrapartida todos têm tecnologia e conhecimento para cavar um pequeno buraco de 30 centímetros e plantar uma oleaginosa que pode produzir a energia que não conseguiram produzir no século XX.
E, depois de garantir que se as coisas forem bem feitas a produção de biocombustíveis não representará qualquer risco para o planeta, terminou: o que pode acontecer de mau, o que pode acontecer de ruim, é que países africanos poderão conquistar a sua independência e a sua autonomia, quando os países mais ricos tiverem que comprar biodiesel deles para despoluir o planeta que os mais pobres não poluem.
Sessão lusófonaNuma sessão marcadamente lusófona, antes usaram da palavra o presidente da Comissão Europeia e o primeiro-ministro português. A defesa dos biocombustíveis foi a tónica dominante, tendo como referência o objectivo assumido pela União de que, até 2020, estes representem pelo menos 10% do total de combustível consumido nos 27.
Durão Barroso defendeu a necessidade de se realizar um debate sobre biocombustíveis que abranja todos os prós e contras, sem receios, nem favorecimento. E garantiu que Bruxelas vai liderar a criação de um mercado de biocombustíveis credível e sustentável.
Depois de despir por momentos a função de presidente do Conselho da União, José Sócrates falou das metas nacionais para os biocombustíveis e energias renováveis, mais ambiciosas que as europeias que, a concretizarem-se, colocarão Portugal no conjunto de países liderantes na UE em matéria de aposta nas renováveis.