Faz mais de sete anos desde que Donald Trump, na altura candidato à Presidência dos Estados Unidos da América, que acabou por vencer, disse que “podia dar um tiro a alguém e que não perdia votos”. Faz mais de um ano que Homelander — da série “The Boys”, o super-herói que se tornou um dos melhores vilões alguma vez criados em televisão, matou, em praça pública, um protestante que atirou uma lata contra o seu filho, no último episódio da terceira temporada. Tanto Trump como Homelander acabaram ovacionados pelos seus fãs.
Estamos em 2023 e o mundo está diferente, para pior: guerra, um conturbado pós-pandemia e latas de tinta contra ministros, dizem-nos que é cada vez mais difícil a realidade não imitar a ficção. O ódio está nos píncaros, a raiva serve-se a escaldar. Uma geração inteira com medo de não ter planeta que grita com a geração anterior. Ainda não é sabida a data de estreia da 4ª temporada desta sátira aos franchises de super-heróis que se tornou uma série de culto, baseada nos comics com o mesmo título, da Amazon Prime. A sátira tornou-se norma, como mandam as práticas da Marvel e da DC, e, por isso, esta sexta-feira estreou-se “Gen V”, spin-off de “The Boys”, sobre a Universidade Godolkin, escola que forma a próxima geração de super-heróis que poderá ocupar o próximo lugar nos Sete ou, no mínimo, no mundo do espetáculo. A violência explícita e o humor pervertido não saíram do guião, mas a adolescência das novas personagens trouxe demasiado sentimentalismo. Como se os “Morangos com Açúcar” fossem escritos pelo Charles Bukowski, com marionetas e pénis a rebentar à mistura. O idealismo dos jovens, que ainda não sabem de que lado querem estar, é estranho para quem ficou fã da brutalidade da série original. No fundo, se “The Boys” não existisse, “Gen V” podia muito bem ser um falhanço.