“Acredita-se que a absorção retardada provocada pela Oxycontin reduz a possibilidade de abuso deste narcótico.” Uma simples frase numa bula está ligada a cerca de 500 mil mortes por overdose nos Estados Unidos da América durante 20 anos, causada pela epidemia de opiáceos que começou por volta dos anos 90, com o uso do medicamento Oxycontin, da Purdue Pharma. Os opiáceos são, ainda hoje, uma verdadeira ameaça de saúde pública naquele país graças ao surgimento de outro poderoso narcótico contrafeito do México: o fentanil, 50 vezes mais poderoso do que heroína, comercializado a partir de 2013.
E se durante anos a família Sackler, detentora da Purdue, escapou aos holofotes mediáticos, agora, depois de ter sido julgada em tribunal, tem o alvo apontado à cabeça através das plataformas de streaming. A empresa declarou-se culpada por publicidade enganosa (“misbranding”) mas, apesar da grande investigação montada, que acabou no Departamento da Justiça do governo dos EUA, o desfecho foi demasiado curto: multas milionárias, tal como aconteceu com a Johnson & Johnson. Nenhum dos principais executivos foi preso. Netflix, HBO Max e Disney têm, no seu catálogo disponível em Portugal, três minisséries sobre este império da dor. São eles “Painkiller”, a mais recente, “The Crime of the Century” e “Dopesick”. As três traçam o tenebroso crescimento desta epidemia, feita de famílias desfeitas, promessas não cumpridas, violência, ganância e abuso de poder, mas em ritmos muito diferentes.