Cultura

Gosta de música psicadélica? Então corra ao último festival de verão, no Cartaxo

Esta sexta-feira e no sábado, a pacata localidade de Valada, Cartaxo, vai entrar em catarse coletiva. A poucos dias da 'rentrée', o Reverence Festival Valada estreia-se no panorama dos festivais de verão com um cartaz opulento para quem gosta de boas doses de música psicadélica.

Os Mão Morta regressam a Valada, depois de duas comparências no defunto Festival do Tejo
Reverence Festival Valada

Expresso

Numa altura em que os mais velhos se preparam para voltar ao trabalho e os mais novos se preocupam com as inscrições na faculdade, o festival Reverence Valada surge como uma última oportunidade de visitar um festival de verão, se é que se pode chamar verão a esta estação do ano à beira de acabar. Assumindo-se como "um festival de música alternativa, underground e psicadélica, mas que não é de difícil audição", o Reverence, instalado à beira do rio Tejo, promete trazer de volta aquele espírito de comunhão com a natureza tão próprio dos festivais dos anos 60 e 70.

As palavras acima são resultantes de uma conversa mantida pelo Expresso com com Nick Allport, fundador da Cartaxo Sessions e mentor do festival. Nick vive em Portugal há cinco anos, na zona do Cartaxo, e criou a promotora em 2011, que desde então tem trazido bandas de índole psicadélica e barulhenta. Envolvido na organização de concertos em Londres desde que formou a promotora Club AC30 com o irmão, o inglês considera que o seu trabalho "evoluiu naturalmente para a realização deste festival", já que "é mais fácil trazer todas estas bandas para um mesmo local, é mais lucrativo para elas, que estão em tour, e para nós". O festival conta ainda com o apoio da Câmara Municipal do Cartaxo, da promotora Lovers & Lollypops (responsável por outro coqueluche da música alternativa, o festival Milhões de Festa) e o Sabotage Rock Club.

Diz Nick que retirou o nome do festival de uma música dos Jesus & Mary Chain e o cartaz apresentado este ano é digno de reverência. À cabeça estão os Hawkwind, tidos como os 'pais' do Space Rock, que vão fazer a sua estreia em Portugal, 45 anos depois de se terem formado e de terem mostrado ao mundo Lemmy Kilmister, lenda do rock que esteve enfileirado na banda entre 1972 e 1975. Também britânicos e experientes, os Electric Wizard voltam a este cantinho para mais uma missa profana, imanente do seu caldeirão de tendências obscuras e sonoridade infernal.

Havendo mais de 80 bandas e DJ convidados, seria um teste de paciência para o leitor enumerá-los todos. Ficam assim menções aos Graveyard, banda de nome enganador, que parte da Suécia para trazer Valada de volta para os anos 70 com o seu rock retro, e aos The Black Angels, filhos perdidos de um cruzamento psicadélico entre os Doors e Roky Erickson. Mas não é só de rock que este cartaz se faz, com os A Place to Bury Strangers a trazerem shoegaze e noise (sim, é um género musical, barulhento por natureza), os Psychic TV a prometer mais uma performance transcendente, impossível de rotular com um género específico.

Portugal também está bem representado no Reverence, com os veteranos Mão Morta, ainda a navegar nas ondas de choque provocadas pela controvérsia do videoclip "Pelo Meu Relógio São Horas de Matar", lançado primeiramente pelo Expresso, a liderar o contingente lusitano. Outros valores emergentes, como os Black Bombain, Process of Guilt e Killimanjaro também marcarão presença no Ribatejo.

A escolha do local não é nova. Foi neste parque de merendas que se realizou o Festival do Tejo, entre 2001 e 2005, onde passaram nomes tão ilustres como Xutos & Pontapés, Jorge Palma e Moonspell. As bandas estarão espalhadas por quatro palcos, com concertos a começarem às 12h e outros a acabar às seis da manhã. A tarefa de vê-los todos parece assustadoramente difícil, se não mesmo impossível, mas para Nick, o grande número de bandas é só uma forma do cartaz ser o mais variado o possível. Aliás, o inglês aconselha os possíveis festivaleiros a virem numa onda relaxada, já que o intuito é mesmo de um "regresso às raízes"

Sendo a estreia do festival, Nick diz que se conseguir reunir entre "quatro e cinco mil pessoas, será um sucesso". É verdade que o fim de semana não augura nada de bom, com chuva prevista para os próximos dias. Contudo, a possibilidade de um festival molhado não assusta, já que "está tanto calor que até vai ser agradável". Mesmo assim, se está a pensar em ir, será melhor não esquecer um guarda-chuva.