A longa-metragem anterior de Sandro Aguilar, “Mariphasa” (2017), começava com um velório. A longa anterior a essa, “A Zona” (2008), com um acidente de carro que a um velório ia parar. Em “Primeira Pessoa do Plural”, a terceira longa – estreia mundial esta noite no Festival de Roterdão, Competição Tiger –, o choque com o luto é muito menos frontal e declarado. Mas existe.
Na sinopse temos um casal prestes a comemorar vinte anos de vida comum, Mateus e Irene (Albano Jerónimo e Isabel Abreu), em vésperas de partir para viagem de férias algures nos trópicos. O destino forçou-os a tomar vacinas que causaram estado febril. Deduz-se daqui o estranho comportamento de ambos. Mais tarde se entende que aquele casal está em estado de fadiga psicológica severa, ele a falar com os seus botões e o rosto encoberto por máscara desde a primeira cena (recorda Franju e também “O Homem Invisível”, alguém angustiado por não conseguir reconhecer-se ao espelho, ao qual Albano Jerónimo acrescentará depois certos esgares de Joker), ela atordoada, desbussolada, com um sentido de humor bizarro de quase não ter nexo: mais tarde será Irene vista a comer terra e a trincar sabonetes, e a atriz Isabel, impávida como se nada fosse... Têm um filho adolescente, em idade em que o relacionamento com os pais se agudiza. Percebe-se que algo lhes tolhe movimentos e pensamentos, na antecâmara de um estado catatónico.