O futebol, ao contrário do que tantas vezes se diz, é simples: esqueçam os elaborados esquemas tácticos e os mind games: o extremo vai a linha, centra e o avançado eleva-se, cabeceia para a baliza e marca golo. Com o cinema passa-se algo de semelhante. Não é forçoso ter meios técnicos e orçamentos faraónicos para fazer bons filmes. Estes, às vezes, até atrapalham: pense-se em John Carpenter, mestre norte-americano do fantástico que, quando foi deixado cair pelos grandes estúdios, voltou ao seu melhor, produzindo fitas notáveis com poucos meios de que é exemplo “Vampiros” (1998).
“Cold Meat”, passado sábado à noite no Batalha Centro de Cinema durante o segundo dia da 42ª edição do Fantasporto, ilustra esta verdade exemplar: o dinheiro não é tudo. Do ponto de vista da produção trata-se de um filme independente à antiga. Conforme explicou antes da projecção o respectivo realizador, o francês Sebastien Drouin, levou 13 dias a filmar e três anos para montar. Foi o produto de uma autêntica assembleia geral das Nações Unidas: se, como se disse, o realizador é francês, a produção é anglo-canadiana, sendo o único luxo a participação do actor Allen Leech que conhecemos da série televisiva “Downtown Abbey” (onde fazia de Tom Branson, o motorista irlandês com simpatias esquerdistas) e do filme “Bohemian Rapsody” (onde interpretava o papel de Paul Frenter, empresário dos Queen).