Em “O Pub The Old Oak”, uma pequena comunidade mineira do nodeste de Inglaterra assiste com estupefação à chegada de uma vaga de refugiados sírios que fugiram à guerra e procuram agora melhor vida. Aquele pub, como nos contou há dias Ken Loach em entrevista pela Internet, é o coração da comunidade, o último espaço de humanidade que resta após 30 anos de declínio social e económico. TJ Ballantyne (Dave Turner), que gere o estabelecimento, resolve então ajudar Yara (Ebla Mari), jovem síria que gosta de tirar fotografias ao que rodeia. Conseguirão eles encontrar uma via de comunicação para as duas comunidades se compreenderem? Ken Loach está com 87 anos, deu a entender em maio, durante a estreia do filme no Festival de Cannes, que “O Pub The Old Oak” seria o seu último filme, afinal talvez não seja bem assim...
Os seus filmes mais recentes deixaram a sensação de que as personagens femininas têm ganho cada vez mais preponderância: primeiro a Katie de Hayley Squires em “Eu, Daniel Blake”, depois a Abby que Debbie Honeywood fez em “Passámos por Cá”, agora Yara, interpretada por Ebla Mari. Concorda com a observação?
Estou pronto a concordar mas essa importância, se existe, não foi construída conscientemente. Nem para mim nem para o Paul (Laverty, guionista habitual de Loach), que investiga muito no terreno aquilo que depois passa para os argumentos dos filmes. Neste caso interessou-nos pensar no que aconteceu a certos vilarejos ingleses em que as pessoas ficaram sem trabalho. E em como colapsaram, porque foi isso que aconteceu a tantas pessoas daquela zona de Inglaterra. As personagens deste filme são ex-mineiros no desemprego. Não sabem como ocupar o tempo. E isso pode tornar-se uma doença. A falta de esperança aumenta. O desespero aumenta. E a chegada à terra de uma vaga de refugiados sírios só faz crescer ainda mais a desconfiança. Mas, por outro lado, o aparecimento dos sírios relativiza as coisas. De repente, os ex-mineiros são confrontados com pessoas que estão em piores situações do que eles mas que ainda resistem e nem por isso abandonaram a esperança. É aqui que nasce a personagem de Yara. Ela traz a energia, a cor da juventude, recusa-se a aceitar que o seu futuro tem que ser negro. É uma personagem forte, verdade, mas vem daqui. Há que colocá-la no seu contexto.