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Menino nasceu, menina será: identidade de género na infância retratada no cinema

“Fala-se muito do nome eleito e daquele que foi dado à nascença. Este último é designado por 'nome morto', aquele que tem que morrer para que outro nasça”, explica a realizadora Estibaliz Urresola Solaguren em entrevista ao Expresso. Premiado no Festival de Berlim, “20.000 Espécies de Abelhas” passa agora no Curtas – Vila do Conde, antes da estreia nas salas em todo o país

Vale a pena começar por uma chamada de alerta pois já se ouviu e até se leu que Aitor, ou Coco, ou Lucía (como mais tarde ela quererá ser chamada), a criança trans que protagoniza este filme, está “confusa” com a sua identidade de género. O adjetivo traz água no bico. Vem de um paternalismo preconceituoso que não espelha esta figura infantil, paternalismo contra o qual, aliás, a criança se vai bater com coragem.

Aitor, ou Coco, ou Lucía (e a partir de agora é por Lucía que trataremos a personagem de Sofía Otero) pode não saber o que realmente é. Afinal, só tem 8 anos. No entanto – e isto é da maior importância - ela sabe perfeitamente o que não quer ser. Neste ponto, não há “confusões”. “Confusos” ficam os adultos com aquela situação. Lucía não quer ser rapaz e até dirá, convicta (ainda o filme vai a meio), que não quer tornar-se igual ao seu pai.