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uando Virginia Woolf escreveu “Orlando”, publicado em 1928 e inspirado na vida da romancista e poetisa britânica Vita Sackville-West, chamou-lhe “uma biografia”, desencadeando ao longo do século XX estudos e reflexões sobre as noções de género e de transgénero. Paul B. Preciado, filósofo, escritor e ativista político transgénero espanhol há muito empenhado num debate sobre o assunto, personalizou e acrescentou ao título do seu filme “a minha biografia política”. A sua teoria é a de que o mundo está finalmente a tornar-se ‘orlandesco’ e que é preciso firmar essa transformação. 25 pessoas não-binárias surgem então a interpretar a personagem de Woolf à medida que nos falam das suas histórias e de uma batalha comum para se tornarem reconhecidas. O filme, apresentado em Espanha pela primeira vez no Festival de San Sebastián, foi uma oportunidade para ouvir Preciado falar de viva voz do seu trabalho de desconstrução do regime binário e também de cinema, já que esta sua estreia na longa-metragem é em tudo uma aventura pioneira.
Recorda-se do momento exato em que o livro de Virginia Woolf entrou na sua vida?
Perfeitamente. Há leituras e livros que se tornam fundadores e que nos transformam. “Orlando” foi seguramente um deles. Até diria mais: o livro de Woolf não me transformou apenas. Libertou-me.