Exclusivo

Cultura

“O Filme do Bruno Aleixo”: esta desilusão que vos deixo

Ao fim de 12 anos de atividade na televisão e na rádio, o já mítico Bruno Aleixo chega por fim ao grande ecrã, com um filme que, infelizmente, deixa bastante a desejar

O filme desta personagem peculiar procura manter-se fiel, na estética e no discurso, à tradição da série de TV

Em 2008, quem circulasse pelos confins do YouTube corria o risco de dar de caras com um objeto insólito. A saber: uma série de vídeos de animação com cerca de 30 segundos (“Os Conselhos Que Vos Deixo”) onde, recortado contra uma paisagem coimbrã imobilizada em fundo, um ewok partilhava connosco algumas das suas pérolas de sabedoria, advertindo-nos, por exemplo, para os inconvenientes de comer cornetos no Café do Aires e de deixar bolas de naftalina ao alcance das crianças. O nome dessa esdrúxula criatura era Bruno Aleixo e, por trás da sua felpuda fisionomia, habitava um conimbricense de meia idade dotado de um feitio quezilento que, ao longo da década seguinte – e muito por culpa do seu humor castiço e non-sense – viria a tornar-se um dos maiores fenómenos da cultura pop nacional. De facto, poucos meses após o seu surgimento na net, já ele tomara de assalto a SIC Radical, com “O Programa do Aleixo”: uma espécie de talk-show em regime de desconversa permanente, onde, na companhia de um busto falante de Napoleão, Aleixo (que se transformara entretanto num cão para não ser processado pela Lucasfilm) ia discorrendo livremente sobre tudo e coisa nenhuma.

A invulgaridade da personagem e do seu programa no panorama do humor televisivo made in Portugal (assente ora na recuperação do teatro de revista ora numa lógica de sketches ora no comentário e na sátira política) asseguraram depressa o sucesso de um projeto que, desde o início, foi conduzido por dois jovens guionistas inspirados. Falamos de João Moreira e Pedro Santo que, nos últimos 12 anos, foram também emprestando as suas vozes à extensa galeria de cromos que, gradualmente, vieram integrar o ‘universo Aleixo’: o Homem do Buçaco (um fulano de aparência pré-histórica, cuja cerrada dicção convida ao uso de legendas), Renato Alexandre (uma personificação do Monstro da Lagoa Negra que deu nome ao filme assinado em 1954 por Jack Arnold)… A propósito da estreia entre nós da primeira aventura de Aleixo e Co. no cinema (já lá iremos), estivemos à conversa com os dois argumentistas, para os quais o sucesso do fenómeno se explica pela sua capacidade de gerar um simultâneo efeito de identificação e estranheza. “É fácil identificar pessoas com o mesmo tipo de personalidade do Aleixo e das outras personagens: elas são todas arquétipos de pessoas comuns. O que é bizarro, além das suas fisionomias, é o ponto de vista que temos sobre elas, chamando-as para a linha da frente para ver como elas levam as suas disputas de café e a sua dinâmica de desconversa para dentro de um talk-show ou de um filme”, disse Moreira na entrevista que nos deu.

Este é um artigo exclusivo. Se é assinante clique AQUI para continuar a ler. Para aceder a todos os conteúdos exclusivos do site do Expresso também pode usar o código que está na capa da revista E do Expresso.

Caso ainda não seja assinante, veja aqui as opções e os preços. Assim terá acesso a todos os nossos artigos.