Os municípios do Cadaval e de Castanheira de Pera assinaram um protocolo destinado a promover e valorizar turística e culturalmente o passado comum de produção de gelo, que remonta ao século XVIII. No protocolo, a que a Lusa teve acesso, os municípios relevam a "história em comum relativa ao fabrico do gelo" nas serras de Montejunto e da Lousã, respetivamente, e comprometem-se a colaborar "com vista ao estabelecimento de condições favoráveis à criação, implementação e dinamização da Rota do Gelo".
No Cadaval (distrito de Lisboa), na Quinta da Serra, em Montejunto, "situa-se a Fábrica da Neve mandada reedificar por Julião Pereira de Castro, reposteiro e neveiro da Casa Real, no último dia de janeiro de 1782", enquanto em Castanheira de Pera (distrito de Leiria), no Cimo do Cabeço do Pereiro, na serra da Lousã, se encontram "os Poços da Neve, estruturas onde se juntavam as neves e armazenava o gelo, cuja existência o alvará de D. José faz remontar a pelo menos 1757", assinalam as autarquias nos considerandos do protocolo.
"A Fábrica de Gelo do Cadaval e os Poços da Neve de Castanheira de Pera representam, assim, marcos patrimoniais de uma herança histórica comum relacionada com a produção, armazenamento e distribuição de gelo, consubstanciando para a arqueologia industrial processos de fabrico do mesmo", recordaram os municípios. "O desenvolvimento de um projeto comum, que inclui a Rota do Gelo, permitirá igualmente como objetivo atrair novos visitantes aos territórios envolvidos, através da oferta um produto cultural e turístico de qualidade, a partir da valorização e divulgação deste património com características únicas", descreve o protocolo.
Descobrir a Real Fábrica do Gelo
Instalado na antiga casa do guarda-florestal, mesmo ao lado do Parque de Campismo Rural da Serra de Montejunto, o Centro de Interpretação Ambiental de Montejunto é o ponto de partida para a visita guiada ao singular complexo fabril. Datada da segunda metade do século XVIII e localizada no concelho do Cadaval, a Real Fábrica do Gelo manteve, até 1850, a missão de refrescar o paladar exigente da corte portuguesa.
O bosque frondoso oculta duas estruturas. A primeira consiste num tanque de armazenamento, que à época era cheio com a água extraída por meio de noras instaladas em dois poços, e em 44 reservatórios, pelos quais era distribuída. Segundo reza a história, a profundidade reduzida de cada reservatório permitia que, durante a noite, quando as temperaturas baixavam, a água congelasse.
O gelo era transportado por homens para a segunda infraestrutura, composta pelos silos, contíguos à construção de arquitetura singular, digna de uma casa assombrada. Era ali que permanecia durante o inverno e a primavera. Assim que o verão chegava, o gelo era “embalado” em palha e serapilheira e levado serra abaixo, até às embarcações ancoradas no Tejo, por onde seguia viagem rumo à Casa do Gelo, no Terreiro do Paço. Depois de ouvir a história, aproveite para merendar no parque, localizado abaixo do centro de interpretação, ou saboreie as famosas tostas mistas do Bar da Serra