Boa Cama Boa Mesa

Comer em cenário de filme e desenterrar o vinho dos mortos em Boticas

Pouco conhecidos, esquecidos, a estrear ou verdadeiramente secretos, Portugal ainda guarda muitos tesouros para Explorar, Contemplar, Provar e Relaxar.

Em Boticas, há tradições que se mantém bem vivas à mesa. Das receitas que atravessam gerações, confecionadas com ingredientes criados mesmo ali ao lado, na horta própria, ao vinho cujo método de produção, descoberto por acaso durante as invasões francesas, é replicado até aos dias de hoje, há segredos para descobrir.

Casa do Pedro

Comer como em casa da avó num cenário de filme
Na Casa do Pedro, na aldeia de Vilarinho Seco, em Boticas, cabem até 80 comensais, mas é preciso reserva para se sentar à mesa deste restaurante típico e sustentável, já que são poucas as coisas que não são plantadas pela família de Pedro e Ana, que o construíram na década de 1990. Afinal, não é sem aviso que se prepara um verdadeiro cozido barrosão, emblema da casa, a par dos presuntos curados e das alheiras. Em Dornelas, Boticas, mesmo ao lado da capela da localidade, na Casa do Antigo, o Sr. José Medeiros prepara borrego no pote, ossos de assuã com feijão, arroz de costela mindinha e fumeiro de grande qualidade, apenas para grupos com um mínimo de oito pessoas. Em Carvalhelhos, onde nascem as águas santas, a Casa do Ti João é famosa pela truta do rio Beça, pescada ali ao lado, e pela posta de carne barrosã. Também na Casa de Vilar, situada entre um bosque de carvalhos e a horta, a posta regional do Barroso é a especialidade, assim como os cogumelos silvestres apanhados no bosque, no seu tempo. Só nas Tabernas do Alto Tâmega se come assim. Assim, em “pequenas vilas, pequenas aldeias, às vezes casas isoladas onde a memória da grande gastronomia popular se mantém bem viva e à sua espera, recriada por cozinheiros e cozinheiras de mão-cheia, cada uma com os seus segredos, cada uma com uma maneira muito própria de lhe desejar”, como se lê no site da iniciativa. Criada em 2004 pela Associação de Desenvolvimento da Região do Alto do Tâmega (ADRAT) com o objetivo de preservar os costumes da região, ganhou uma nova identidade em 2020 graças à intervenção da agência Mesa, especializada em cultura gastronómica. Atualmente, são 15 as tabernas aderentes, nos municípios de Boticas, Chaves, Montalegre, Ribeira de Pena, Valpaços e Vila Pouca de Aguiar.

Vinho dos Mortos

Desenterrar o vinho dos mortos
A história remonta a 1808, início do século XIX, durante a segunda Invasão Francesa, quando o povo da atual região de Boticas começou a enterrar os seus bens preciosos, incluindo o vinho, com medo que deles se apoderassem. Quan - do os recuperaram, perceberam que o vinho tinha ganho algum gás, graças à fermentação no chão das adegas, por baixo de pipas e lagares, e que o teor al - coólico era reduzido. Por ter sido enter - rado, este vinho regional transmontano, com território delimitado às encostas de Boticas, foi batizado como Vinho dos Mortos, e o projeto tem passado de geração em geração. A adega situa-se numa casa de 1792 e pode ser visitada por marcação, com direito a prova.

Portugal Secerto, com ilustrações de Pedro Lourenço

Este texto foi adaptado do Guia Portugal Secreto - Porto e Norte, com produção Boa Cama Boa Mesa, oferecido com o Expresso na edição de 9 de junho 2022.

Esta coleção de sete guias divididos pelas regiões de turismo (Porto e Norte, Centro, Lisboa e Ribatejo, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira), oferecida com o Expresso desta quinta-feira, 9 de junho, e durante sete semanas, convida à descoberta do país em 350 sugestões. As ilustrações de capa são da autoria de Pedro Lourenço.

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