As notícias vindas de Angola são como uma carga de cavalaria. Não são uma a seguir à outra: é um rolo compressor contínuo que impressiona e pressiona.
Talvez o sinal inicial fosse este: dar posse a 32 ministros avisando que seriam avaliados pelo trabalho feito. Depois logo exonerando um deles que faltou à tomada de posse.
Mas depois dos “sinais fracos” vieram os “sinais fortes”. A expulsão do governador do Banco Nacional de Angola do cargo que ocupava evocando-se a uma justificação pontiaguda. Essa justificação dá para mangas. É interessante por mais que uma razão. É independente de quaisquer questões relacionadas com “idoneidade” ou outras sugerindo o fenómeno corrupção (que, por comparação, foi a principal formulação utilizada por Xi Jinping na China) e certamente lança uma acusação/explicação tão fria como estrutural sobre as causas da situação a que Angola chegou (más decisões por decisores mal equipados para o cargo). Mas então quem equipou o aparelho de estado com mau equipamento? A implicação é lógica.
E depois foi a cavalgada para a Administração das principais empresas públicas (as grandes, lucrativas, extractivas Diamang e Sonangol). E toda uma “nata” de responsáveis nomeados quando o anterior Presidente já estava de saída.
A partir de aqui já não havia volta a dar. Como argumentou Ricardo Oliveira, investigador da Universidade de Oxford, isto agora já não era só cosmética (peça do Financial Times, assinatura necessária para aceder).
E foi aí que os próprios dos Santos começaram a ser afastados: Isabel dos Santos, removida do cargo máximo da Sonangol. E como Fernando Jorge Cardoso, investigador do ISCTE, prediz: os próximos dominós são fáceis de adivinhar.
Nisto Rafael Marques sinaliza optimismo de uma mudança genuína, mas Luaty Beirão sugere prudência. Ricardo Oliveira diz que mesmo assim as aparências podem enganar, e Fernando Jorge Cardoso diz que só estando com total respaldo militar isto pode avançar.
Uma coisa é certa o Presidente, e o seu círculo próximo, estão a proceder a decisões que terão tido muito tempo para preparar.
Em Angola a economia piorou antes de melhorar, e por enquanto está estável mas sem grandes expectativa de reviravolta. Porque a economia angolana é essencialmente petróleo, e o petróleo está assim.
E a política em Angola?! Esperemos que não melhore antes de piorar. Veremos. Dependerá dos Angolanos.
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Uma nota final, do ponto de vista português: também seria interessante que por cá muita gente fosse igualmente “exonerada”! A ser verdade que muitos decisores de topo terão sido “incompetentes” na condução dos destinos de Angola, então seria justo que muitos dos seus sofisticados ajudantes/facilitadores/consultores/ex-ministros que desde Portugal os ajudaram nessa difícil missão fossem aliviados das “gasosas”. Com o contributo desta engravatada gente é bem possível muitos membros da elite angolana se tenham tornado competentes nas coisas erradas.