Órgão de cores

Greve? Mas não posso...

Querem que eu faça greve? É já hoje.

Os traidores da greve (esses que, ainda por cima, nem sequer receberão as 30 moedas) são aqueles que não podem abdicar da sua jorna para poderem dar azo à sua indignação. Esses sim, malditos fura-greves, pobres desgraçados!

Andam à míngua, e alegam, tresloucadamente alheados que têm de garantir o ganha pão porque o conjuge é o único a meter dinheiro para a conta da casa. Tolice, disparate, azar. Emigrem, ide chatear outro, não se ponham no caminho de quem quer trabalhar e verdadeiramente contribuir para o crescimento económico do país.

Filhos, fraldas, "o comer na mesa", os tustos que ao falharem ao fim do mês fazem mossa, são esses mesmos que sentem na pele, condoídos, que não nos conseguem acompanhar neste grito, nós, o Povo, os sufocados.

Pois é, coitados, não tivessem empenhado o seu futuro em cartões de crédito que lhes eram esfregados na cara, com empréstimos usurários a limparem-lhes os euros com herculeamente inflacionadas taxas de esforço (e de juros), se não tivessem caído no engodo de certeza que hoje estariam "à superfície".

Dizia, por exemplo e com soez displante, Aguiar-Branco, que somos todos familiares à mesma mesa e padecemos todos das mesmas dificuldades. Ó caro José Pedro, como eu o compreendo, o cavalheiro abrigou-se na óbvia e confortável trincheira, se ao menos o meu caro tivesse dois hífens ou (como, aliás, meu bisavô me caligrafava) fosse Luiz Monteyro, aí sim, compreendê-lo-ía... (Não ligue, minudências minhas, o cavalheiro limite-se a enxergar-se e a ter tino nos disparates que propala.)

Estou, porém, perfeitamente esperançado que, no lado da correcta barricada existam soluções, não demagogias, que se apresentem esperanças, não vãs promessas, que se perspectivem sólidas alternativas, não experiências socio-económicas, que se perfilem lideranças, não apegos ao poder, que, na realidade entendam que o Povo é quem mais ordena (por mais obtuso que o iludido Povo tenha sido nas últimas décadas) quanto mais não seja porque é o Povo que vota e não é todo o Povo que queima promessas como se de uma bonfire de atrasados mentais se tratasse.

É certo, nisto o povo não votou, o Povo engoliu uma farsa, um engonhar de falácias, uma pseudo-promessa de nada, mas nós, Povo navegador e orgulhoso, enfrentámos o Adamastor e dobrámos o ligeirinho Cabo das Tormentas. E agora ficamos-nos?!

[eis que se me ocorreu a música da Miss Legs, "We ought to stay together"]

No meio da ensurdecedora subserviência desta lunática qualquer-coisócracia que nos "governa", tenho a certeza de que todos juntos pela Europa entoaremos em uníssono mais um grito de demonstração que "eles" estão enganados.

Somos um Povo, não somos um dócil e arrebanhado rebanho, somos os 99%.

Vamos, vamos, puxemos-nos para cima!

Ó Iça!

 

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