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Morreu Joaquim Pinto, baixista e fundador dos Mão Morta

O músico que em novembro de 1984 fez parte do trio fundador da banda bracarense, juntamente com Miguel Pedro (guitarra) e Adolfo Luxúria Canibal (voz), faleceu na madrugada desta segunda-feira. “Fundador e ideólogo” dos Mão Morta, pode ler-se na homenagem que o grupo lhe dedicou nas redes sociais, era desde 1990 “membro honorário” do grupo, aparecendo “esporadicamente e de surpresa num concerto ou outro”

Joaquim Pinto, baixista dos Mão Morta, 68 anos
D.R.

Morreu Joaquim Pinto, membro fundador dos Mão Morta, seu primeiro baixista e, de acordo com comunicado da banda, um dos seus ideólogos. O músico, que juntamente com Miguel Pedro (guitarra) e Adolfo Luxúria Canibal (voz), formou os Mão Morta em 1984, estava internado no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, onde esta madrugada faleceu.

“É com profunda tristeza que comunicamos o falecimento de Joaquim Pinto. (…) Fundador e ideólogo dos Mão Morta, que formou com Miguel Pedro e Adolfo Luxúria Canibal há exatamente 40 anos, no início de novembro de 1984, e seu membro honorário desde 1990, quando deixou de exercer as funções de baixista permanente. Desde então aparecia esporadicamente e de surpresa num concerto ou outro, a tocar o seu ‘Aum’. Haveremos de nos voltar a encontrar em Berlim! Até lá, fica em paz, irmão”, partilhou o grupo nas redes sociais.

A referência à capital alemã está plenamente enraizada na história dos Mão Morta. O nascimento do grupo está ligado a uma visita de Joaquim Pinto a Berlim, em outubro de 1984, tendo então assistido a um concerto dos Swans, de Michael Gira. Ao cruzar-se com o português, Harry Crosby, baixista dos norte-americanos, terá dito a Pinto: “Tens cara de baixista”. De regresso a Portugal, Pinto comprou um baixo e logo no mês seguinte formava os Mão Morta.

Em “Narradores da Decadência”, a biografia dos Mão Morta editada pela Quase em 2004, Vítor Junqueira apresenta assim Joaquim Pinto: “Era uma pessoa cheia de carisma, que reunia à sua volta meio mundo. Chamavam-lhe o Pinto Marroquino (...) não só por causa dos charros que enrolava a toda a hora ou da barba e do cabelo que lhe davam um aspecto fora do comum, mas também porque nunca tinha pressa para nada. (...) Filho da burguesia médio-alta, de uma família ligada à indústria têxtil, experimentou vários cursos após o liceu, sem nunca ter terminado nenhum. Esteve em Coimbra (...), esteve em Bruxelas para estudar cinema, voltou a Coimbra e estudou ainda no Porto. Esteve ligado à extrema-esquerda, embora nunca se tenha envolvido nas escaramuças activistas. Ele e Adolfo conheciam-se desse circuito político, mas foi só a partir do primeiro concerto dos Auauafeiomau que os dois se envolveram em conjunto, ainda que inseridos naquela agitação que se começava a sentir, na conspiração para a criação de uma certa cultura alternativa em Braga. Pinto ouvia essencialmente jazz, até mais ou menos à altura desse concerto, do qual saiu cheio de entusiasmo, começando daí a cultivar outro interesse pelo rock”.

Joaquim Pinto abandonou a banda após o concerto que os Mão Morta deram em janeiro de 1990 no Rock Rendez Vous, numa altura em que o grupo preparava o álbum “Corações Felpudos”. Seria substituído por José Pedro Moura, dos Pop Dell'Arte.