Acabamos a tarde a beber café com Lias Saoudi, na Praça José Fontana, em Lisboa, a alguns metros do hotel onde o vocalista dos Fat White Family recebeu a imprensa portuguesa num dia de sol primaveril. Ao balcão, um jovem tatuado estranha-lhe o rosto, pergunta: mas é mesmo ele? Sim, é mesmo ele, respondem-lhe, com o jovem em questão a assumir-se fã do grupo britânico. Os Fat White Family podem não ser conhecidos do grande público, mas são-no por quem ainda faz do rock um modo de vida - e quanto mais alternativo, melhor. Quanto mais sujo, também.
A banda, que lançou em 2024 um novo álbum, “Forgiveness Is Yours”, tem tido uma carreira sempre no fio da navalha. Não só pela música, que recupera a experiência pós-punk da década de oitenta, como pelas várias peripécias envolvendo os seus membros, sobretudo com substâncias psicotrópicas à mistura. Em tom sarcástico, um sarcasmo que esconde sempre uma ponta de verdade, Adelle Stripe - que, juntamente com Lias, contou a história (em modo realismo mágico) do grupo em “Ten Thousand Apologies”, livro de 2022 - referiu-se aos Fat White Family como “uma banda drogada com um problema de rock”, que é bem capaz de figurar no panteão das melhores descrições de sempre de um projeto musical. Todos os membros do grupo já tiveram a sua quota parte de problemas com o vício.