“Eu canto o corpo elétrico”, escreveu Walt Whitman, ode a todos os aspectos da fisionomia humana, proveniente do amor furioso que o poeta detinha pelo seu semelhante. Como com Whitman e os exércitos que o envolveram e que ele envolveu, as canções de Patti Smith têm o mesmo efeito no ouvinte. Ela canta, também, o corpo eléctrico, como voltámos a testemunhar na noite de domingo no festival Jardins do Marquês - Oeiras Valley, em Oeiras: o corpo rock n' roll, a testa que pinga suor sobre uma guitarra, os dedos que se desfazem em sangue nas cordas, os músculos que doem, no pescoço e nos braços, após uma sessão de headbanging, as pernas que tremem na saída de um daqueles concertos que a mente guardará enquanto for mente. Patti, como Whitman, é uma das grandes poetas da literatura americana. Dizem-na do punk, palavra que outrora detinha um significado esdrúxulo, era vista como insulto. Patti, e os que vieram a seu lado naquele CBGB's nova-iorquino que não existe mais, mudou-lhe completamente o sentido.
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Patti Smith ao vivo no festival Jardins do Marquês, em Oeiras: Liberdade, Igualdade, Rock and roll
Patti Smith regressou a Portugal poucos meses depois da poesia de Lisboa e Braga, desta vez para apresentar outro tipo de versos, mais elétricos, sempre rock and roll. A morte, omnipresente no alinhamento, saiu à rua e trouxe canções de homenagem ao falecido marido, Fred “Sonic” Smith, a Kurt Cobain, e a pensar nos povos expropriados das suas terras. Aos 77 anos, a poeta ainda é do punk, a música ainda é do rock, o futuro ainda lhe pertence