“Nós somos selvagens, eu acho", diz a certa altura Aldina Duarte, sobre uma das afinidades que tem com Capicua, ou Ana Fernandes. Com uma diferença de idades de 14 anos, a fadista de Lisboa, que vem trilhando um caminho singular e independente, e a rapper e escritora do Porto, dona de um estilo bem reconhecível e aplaudido, encontraram-se numa experiência curiosa: uma espécie de curso online, no qual Aldina ensinou a Capicua “as regras, os truques e os segredos” dos fados tradicionais. Aluna aplicada, a também mentora do projeto Mão Verde criou então os dez poemas que perfazem “Metade-Metade”, novo álbum de Aldina Duarte. “Eu tenho de querer dizer alguma coisa às pessoas. Não tenho esse dom de cantar só por cantar”, explica, com a frontalidade que lhe conhecemos, a fadista. Capicua chama-lhe punk, ela diz que só faz o que quer, “até porque sei limpar casas muito bem”. Conversa com duas forças da natureza que a arte juntou.
Como começou esta caminhada? Lembram-se do dia em que se conheceram?
Capicua: Lembro-me de ver a Aldina em concertos e de a conhecer, porque partilhamos a mesma agência. Mas acho que a conheci melhor quando a convidei para o programa que tinha na Antena 3, “Carta Branca”, onde fazia entrevistas a pessoas que escreviam letras: fazia as mesmas perguntas a letristas diferentes.O programa tinha 45 minutos e nós ficámos para aí uma hora e meia a falar…
Aldina Duarte: Foi como as oficinas do fado que fizemos. Também era para ser uma hora, e depois…
C: A Aldina é muito punk, e é muito fácil gostar dela. É muito espontânea, e eu gosto de pessoas espontâneas.
AD: Socialmente, sou um bocado tímida. Não parecendo, sou reservada! Há uma base de confiança que eu preciso de ter, para me aproximar da maneira como nos aproximámos.
C: Eu também sou reservada!
AD: Mas somos selvagens, eu acho.