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Dino D’Santiago: “São milhares os corpos asiáticos que ‘desaguam’ na nossa costa alentejana. Acabam traficados”

“Tráfico humano e neo-escravatura em pleno século XXI”, escreve Dino D’Santiago depois de um concerto em São Teotónio, no município de Odemira. “Ontem, quando subi ao palco, apercebi-me que nunca tive uma representação maior do que é este novo Portugal. Abraçaram-me e agradeceram pela alegria que sentiram”

Instagram Dino D'Santiago

Dino D'Santiago insurgiu-se, nas redes sociais, contra o que designa de “tráfico humano e neo-escravatura em pleno século XXI”. O músico atuou recentemente na FACECO (Feira das Atividades Culturais e Económicas do Concelho de Odemira), em São Teotónio (Odemira), e conviveu com imigrantes que ali residem para trabalhar nas campanhas agrícolas.

“São milhares os corpos asiáticos que ‘desaguam’ na nossa costa Alentejana, na sua grande maioria oriundos da Índia, Bangladesh e Nepal”, escreveu nas redes sociais. “Saem dos seus países com a crença de um ‘sonho europeu’, mas acabam por ser explorados, traficados e reduzidos a uma condição sub-humana, queimando todos os sonhos nas estufas e explorações agrícolas um pouco por todo o Alentejo, especialmente no Sudoeste”.

“Recebem perto de 4€ por hora, chegam a viver 20 num apartamento T2, pagando cerca de 125€ por pessoa, transformando essas casas em autênticas ‘senzalas’ legalizadas, onde as reais causas da exploração de seres humanos se baseiam na ganância desmedida, na procura do lucro fácil e no racismo”, continuou.

“Ontem, quando subi ao palco da FACECO, em São Teotónio, apercebi-me que nunca tive uma representação maior do que é este novo Portugal. Desta vez a ‘roda Kriola’ juntou nepaleses a brasileiros, indianos a portugueses, bangladexenses a cabo-verdianos e guineenses, ou romenos a moldávios. Toda a gente a dançar ao som da clave africana que nos une”.

"No final, algumas dezenas de pessoas ficaram para um abraço acompanhado de uma fotografia, e reparei neste grupo que ia deixando toda a gente passar à sua frente, como que dizendo ‘ainda não é a nossa vez’. Quando chegaram, abraçaram-me e agradeceram pela alegria que sentiram quando dediquei o concerto às suas jornadas pelo ‘pesadelo’ Europeu. Agradeceram a Portugal por recebê-los e têm esperança que no final, irá dar 'tudo certo' .Que assim seja", rematou.

Recentemente, a Câmara Municipal de Odemira anunciou que irá agir judicialmente contra as empresas agrícolas que mantêm alojamentos ilegais no seu território. “O Governo, a Câmara e todas as entidades, [entre elas] o Parque Natural [do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina], fizeram um esforço extraordinário para encontrar uma legislação para essas soluções de alojamento para trabalhadores temporários”, afirmou à agência Lusa o presidente do município, Hélder Guerreiro. Algumas empresas, disse, “não se quiseram legalizar” e estão, por isso, “a fazer concorrência completamente desleal e ilegal”. "Não quiseram legalizar, não se legalizaram e algumas delas, que nem sequer estão em condições, face à lei, de estar nesse sítio, têm de lá sair", acrescentou o autarca.