Não foi a primeira vez que o público português testemunhou a abordagem idiossincrática ao palco do jamaicano-americano, com ascendência sul-africana, Masego. Aliás, no início deste ano Lisboa recebeu a sua primeira atuação em nome próprio em solo nacional, depois de duas passagens muito celebradas pelo festival Super Bock Super Rock. Ontem, no MEO Sudoeste, corajosamente sozinho, o músico dinamitou fronteiras entre aquilo que se entende por concerto e aquilo que se entende por DJ set, deixando um público infelizmente pouco efusivo perdido no seu labirinto de sonoridades e referências: se num momento o víamos pegar no seu saxofone para uma intensa ‘Tadow’, parceria com o francês FKJ recuperada ao álbum de estreia “Lady Lady”, de 2018, no seguinte atirava-se a uma sequência que juntava Kaytranada, Kendrick Lamar e uma inesperada achega a ‘Poker Face’ de Lady Gaga.
Dando largas à sua belíssima voz em temas como ‘Mystery Lady’, colaboração com Don Toliver, ou ‘Veg Out (Wasting Thyme)’, Masego dançou em transe, incentivou a comunhão quase religiosa em torno da sua música e decidiu até mostrar uma canção nova. “Não é suposto fazer isto”, assume, “ponham os telefones de parte para eu não ter problemas”. Entre sintetizadores envolventes e momentos carregados de funk, o músico quis ainda levar o público, que àquela hora já parecia estar ali para marcar lugar para Steve Aoki, numa viagem ao seu bairro, atirando-lhe com canções como ‘Meditation’ de GoldLink com Kaytranada e Jazmine Sullivan, ‘Collard Greens’ de Schoolboy Q e Kendrick Lamar, ‘Can’t Say’ de Travis Scott ou ‘Kiss Kiss’ de Chris Brown com T-Pain, num ziguezaguear estonteante entre diferentes abordagens que o leva a descrever a música a que se dedica como "traphousejazz".