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Rolling Loud Portugal: finalmente vimos J. Cole! A crónica de uma espera que (re)compensou muito

Um dos nomes mais pedidos pelos fãs portugueses de hip-hop nos últimos anos fez, finalmente, a sua estreia por cá em Portimão. O rapper norte-americano J. Cole foi o cabeça de cartaz da noite de estreia da primeira edição em Portugal do festival Rolling Loud. Teremos visto em palco o melhor rapper da sua geração?

J. Cole no Rolling Loud Portugal
Jordiedotcom

Alexandre Ribeiro

About fucking time”. Não deixa de ser curioso que estas tenham sido as palavras que Jermaine Lamarr Cole usou quando se dirigiu pela primeira vez ao público do Rolling Loud Portugal, na Praia da Rocha, esta quarta-feira; a curiosidade vinha com duplo sentido agregado – o atraso em relação à hora estipulada para o início do concerto até poderia fazer comichão em alguns casos, mas o que são uns minutos quando se esperou tanto para que acontecesse pela primeira vez em território português?

Quando se fala de J. Cole, a conversa, mais cedo ou mais tarde, também passará pela sua inclusão nos três primeiros lugares da lista de melhores rappers da sua geração, ao lado de Kendrick Lamar e Drake; logo depois virá uma questão que quem valoriza a nobre arte de rimar em cima de um beat acabará por fazer: qual dos três é o melhor e porquê? Nestas competições relacionadas com expressão artística, a pergunta de quem é o melhor acaba por ser redundante; estar constantemente na conversa é, só por si, razão mais do que suficiente para se estar feliz e para se perceber que estará no caminho certo.

Esta introdução não serve para começar uma defesa de “J. Cole, o melhor rapper da sua geração”, até porque ele não precisa disso, algo que se tornou mais evidente depois de o vermos ao vivo na Praia da Rocha, em Portimão. Acompanhado por uma banda que fez o que pôde – os problemas técnicos que atrasaram a entrada não se resolveram por completo, mas também não prejudicaram totalmente –, o artista da Carolina do Norte desenhou um alimento que nos levou por alturas diferentes do seu catálogo, passando por discos como 2014 Forest Hills Drive (o álbum que todos tinham na ponta da língua na hora de cantar), Off-Season ou pelas suas participações – e aí incluíram-se “a lot” (de 21 Savage), “Planez” (de Jeremih) ou “The London” (de Young Thug).

J. Cole no Rolling Loud Portugal
Kadeem Cobham

Incluído num dia da programação com tantos conterrâneos, não foi de espantar que alguns deles fossem chamados ao palco: Bia, a sua “homegirl”, subiu para dar seguimento à sua paixão por uma certa cidade britânica em “LONDON” e Bas, um dos seus protegidos na Dreamville, para “Down Bad” e “[The Jackie]” – a segunda serviu para que J. Cole começasse por explicar que ele e o companheiro de editora eram muito competitivos (principalmente em videojogos), um momento que desembocou numa daquelas batalhas de barulho entre lado direito e lado esquerdo do público em que todos saímos vencedores. Um dos momentos mais divertidos da atuação.

J. Cole no Rolling Loud Portugal
Kadeem Cobham

Antes de tocar “MIDDLE CHILD”, uma música que confessou ser demasiado importante para si para deixar que a estragassem, o autor de KOD usou essa deixa da importância para voltar a reforçar que o som não estava como devia – a maneira como foi fazendo estes pequenos comentários sobre o que precisava de ser ajustado e melhorado dizem muito mais sobre ele do que se possa pensar, mostrando dessa forma uma grande sensibilidade para todos os pormenores do ambiente que o rodeiam. Como qualquer profissional que se quer superar e tornar cada vez melhor, este é o tipo de mentalidade e de atenção ao detalhe que o coloca num grupo restrito/de elite.

Na estreia em Portugal, o público veio de toda a parte, ficando isso bem patente quando, ainda na primeira metade do espetáculo, Cole decidiu perceber de onde vinham os vários membros da plateia – entre o nosso país, Espanha, Alemanha e Inglaterra, o último foi o que mais barulho gerou. Fica a dica: é urgente voltar a trazê-lo cá para atuar num sítio em que as pessoas que tanto pediram a sua vinda tenham a oportunidade de vê-lo.