Soube tão bem, naquele palco à parte que nos primeiros anos foi curado pelo festival All Tomorrow's Parties, assistir a um concerto rock, sem espinhas, propulsionado pelas guitarras jangly dos australianos Rolling Blackouts C.F. (C de Coast, F de Fever).
Ao mesmo tempo que Beck enfrentava a apatia do público do maior espaço do festival portuense com um espetáculo mais pobre do que o esperado, estes dignos herdeiros dos Go-Betweens deram uma verdadeira lição sobre o que é ser uma banda rock: um entrosamento cego, guitarras (lead, ritmo e acústica) que se complementam alegremente, três vocalistas capazes, baixo e bateria em generosa cumplicidade.
Num palco habituado, noutros anos, ao deflagrar de portentos rock/punk & derivados (lembramo-nos de Thee Oh Sees e de King Gizzard and the Lizard Wizard fazerem aqui 'miséria'), o público parece sempre mais empenhado em retribuir a dádiva do que noutras paragens do evento portuense, onde existe sempre uma boa percentagem de festivaleiros em trânsito para um utópico lugar melhor. Há aplausos, arte antiga.
Com três álbuns no bornal, o último dos quais com apenas um mês de vida ("Endless Rooms"), os RBCF puderam fazer um concerto 'best of', passando o lustro a pérolas como 'An Air Conditioned Man' e 'Talking Straight', canções que colocam em evidência sobretudo a ligação entre os três homens da frente, Fran Keaney, Tom Russo e Joe White, este último um exímio artesão das melhores e mais arredondadas linhas de guitarra dos últimos anos (e nada ensimesmado na entrega).
Uma hora depois, há sorrisos rasgados em palco e fora dele. Aconteceu aqui um ótimo concerto rock - sabíamos que ainda existiam.