Comprar barato e vender caro é a regra número de todo o investidor. Mas não é fácil cumpri-la. Como conseguir? O segredo é entrar no mercado em períodos de crise, isto é quando os preços estão em baixa. Um mandamento válido para qualquer tipo de investimento.
Inclusive o imobiliário. Por isso, se sempre sonhou ter um apartamento em Manhattan, 2008 é o ano para avançar. 'Esta é uma altura interessante para os europeus adquirirem casa em Manhattan', afirma Pedro Rutkowski, director-geral da consultora imobiliária Worx. 'Absolutamente', reforça Roger Erickson, do escritório do Upper East Side nova-iorquino da Sotheby's International Realty Affiliates. 'Já há muitos europeus activos no mercado', revela o especialista desta rede imobiliária especializada no segmento de luxo.
Dois factores tornam a aquisição de um apartamento na Big Apple mais atractiva este ano, para cidadãos do Velho Continente. O primeiro é a força do euro. De há um ano a esta parte a moeda europeia valorizou-se 17% contra o dólar e, desde Janeiro, ganhou 7%, atingindo um máximo histórico acima dos 1,59 dólares. Alguns estudos apontam mesmo que, anteriormente, o dólar estava sobreavaliado, aproximando-se agora do seu valor real.
O segundo factor é a crise imobiliária nos Estados Unidos. Segundo a Standard & Poor's o preço das casas caiu 9,1% em Dezembro face ao mesmo mês do ano anterior. Mais: a agência de notação de rating espera que os valores recuem outros 11% até ao final de 2008, perfazendo uma queda total de 20% em relação ao máximo registado em 2006.
O efeito Wall Street
A Big Apple parecia imune à tendência. 'Continua a surpreender-me a resiliência do mercado imobiliário de Manhattan aos problemas que deprimiram outras zonas', confessa Roger Erickson. Contudo, a crise financeira obrigou os bancos de Wall Street a cortar 34 mil empregos nos últimos nove meses a maior redução desde 2001. E é Wall Street que determina o andamento do mercado imobiliário na cidade, com os preços a seguirem a evolução dos bónus pagos. Resultado: embora os preços médios ainda estejam a subir (aumentaram 13,2% no primeiro trimestre, em termos homólogos), a venda de apartamentos na Big Apple caiu 34%, no mesmo período, face aos primeiros três meses de 2007. E, segundo o site Economy.com, da agência de notação de rating Moody's, o valor dos imóveis residenciais deve cair, em média, 8% até ao final deste ano.
Quanto lhe pode custar uma casa em Nova Iorque? Para a Worx, necessita de, pelo menos, 1,1 milhões de dólares (700 mil euros) para adquirir um bom apartamento, com 80 metros quadrados, em Upper Manhattan. No caso de Lower Manhattan, o valor mínimo é de 1 milhão de dólares (637 mil euros). A Sotheby's aponta ainda mais alto: 'É muito difícil encontrar alguma coisa boa por menos de 2 milhões de dólares (perto de 1,3 milhões de euros)', afirma Roger Erickson.
Upper Manhattan e a fronteira sul do Central Park são as zonas mais nobres. Em Lower Manhattan a Sotheby's recomenda West Village, e a Worx, o Soho.
Segundo a Worx, o metro quadrado num bom apartamento custa, pelo menos, 13 270 dólares (8447 euros), em Upper Manhattan, e 12 510 dólares (7963 euros), em Lower Manhattan. A Sotheby's aponta um valor médio de 21 528 dólares (13 703 euros). Mas, em casas de topo, pode ultrapassar 75 mil dólares (48 mil euros) por metro quadrado.
Oportunidades em Madrid
A crise imobiliária não se restringe aos Estados Unidos. A vizinha Espanha tem sido muito afectada. Os dados relativos ao início de 2008 apontam uma quebra entre 27% e 30% na transacção de imóveis no país. Em Madrid, o valor é idêntico. 'Nesta altura os compradores não estão interessados em endividar-se, e os proprietários estão a tentar vender os seus activos a todo o custo, para garantir algum retorno e liquidez', explica Pedro Rutkowski.
Contudo, é preciso separar as águas, alerta a Worx. 'Em Madrid, o valor dos apartamentos de luxo poderá manter-se.Já o preço dos espaços de qualidade média/ baixa já recuou, nalguns casos, mais de 10%.' Certo é que, mesmo no segmento alto, 'espera-se que, este ano, o aumento dos preços seja inferior à inflação', destaca a consultora.
O investimento necessário para adquirir um bom apartamento em Madrid, com cerca de 80 metros quadrados, oscila, segundo a Worx, entre 520 mil e 560 mil euros. Já um excelente apartamento na capital espanhola, com a mesma área, é cerca de 720 mil euros. Ao longo do ano, à medida que aumente o incumprimento no crédito, resultando na venda de mais apartamentos, haverá mais oportunidades em Madrid. Mas é preciso estar disposto a arriscar. 'As perspectivas para o mercado espanhol são muito negativas.
Não há indícios de que vá recuperar nos próximos meses. Pode, inclusive, piorar', frisa Pedro Rutkowski. Quanto a Nova Iorque, o final de 2008 deve assistir a novo impulso em alta dos preços. Tudo porque as eleições presidenciais nos Estados Unidos darão ímpeto à retoma da economia.
'Manhattan é como a Roma antiga todas as estradas vão lá dar. Por isso, o valor do imobiliário continuará a sua escalada', remata Roger Erickson. O Paseo de la Castellana é o eixo em torno do qual se agrupam as zonas mais nobres.
Salamanca, Jerónimos, Chamberí, Viso, e Nueva España são as que têm maior potencial de valorização para a Worx. Num bom apartamento, o preço por metro quadrado oscila entre 6500 e 7 mil euros. Se for excelente, o valor médio sobe para 9 mil euros por metro quadrado, atingindo, em propriedades de topo, 18 mil.