Festivais de Verão

Os reis do Verão

Álvaro Covões é o promotor de maior sucesso em Portugal. A Everything Is New detém 30% das receitas do mercado. Luís Montez reeditou Vilar de Mouros e inventou o Sudoeste. Tudo em nome da Música no Coração. É dono de várias rádios.

Há quatro gerações que a família Covões está ligada ao mundo do espectáculo. O Coliseu dos Recreios, em Lisboa, foi a grande sala de estar de avós e netos. Por isso, Álvaro Covões nunca descurou a ideia de um dia vir também a dedicar-se ao negócio. Cresceu a ver bailado e ópera, a ouvir rock, música popular portuguesa, fado. Mas foi como cambista, ou money market dealer, como prefere dizer, que começou a sua carreira profissional.

Em 1991, porém, decide associar-se a Luís Montez para criar a promotora Música no Coração - mas só seis anos depois abandona todas as actividades profissionais que desenvolvia para se dedicar em full-time aos espectáculos de música. Seguiram-se dez anos de trabalho intenso. A Música no Coração transformava-se na maior promotora portuguesa e monopolizava o mercado. Divergências de opinião em relação à estratégia empresarial a seguir levaram à cisão dos dois sócios. Covões deixa a Música no Coração e funda a Everything Is New. Mais vocacionada para os grandes concertos, mas atenta ao mundo dos festivais, a empresa lidera hoje o mercado nacional. Dados do Instituto Nacional de Estatística atribuem-lhe um volume de vendas na ordem dos 30% no que respeita às receitas de todos os espectáculos realizados no país, incluindo os que são promovidos por autarquias e pelo Estado. "Comparo muito esta actividade profissional à dos jornalistas. Cada promotor tem as suas fontes e sabe que tudo o que tem que ser feito até às oito da noite tem que estar pronto às oito da noite. Não são admitidas falhas!", afirma, garantindo que essa é a fórmula certa do negócio.

Com dez colaboradores permanentes e a empresa de vento em popa, Covões traça o futuro da Everything Is New através da abolição de fronteiras entre Portugal e Espanha. Afinal de contas, Lisboa está mais perto de muitas cidades espanholas do que Madrid... Além disso, "na área do entretenimento, a palavra crise não existe. As pessoas querem divertir-se. Na lista das necessidades básicas do homem, a diversão vem a seguir ao tecto e à comida. Sobreviver apenas não faz ninguém feliz. Nós fazemos. Somos um bocadinho Deus", acredita. E tem consciência de que o público aumenta a cada ano na proporção directa do natural crescimento humano. "Cada ano que passa há mais gente que ganhou maioridade para ir sozinha a eventos deste tipo e os mais velhos não deixaram de o fazer."

  • Festival Optimus
  • Festival Paredes de Coura
  • Concerto dos Eagles
  • Concerto de Anastacia
  • Concerto de Leonard Cohen
  • Concerto de Leonard Cohen

Não dá entrevistas e não gosta de ser fotografado. "A música e os artistas é que são os protagonistas", justifica Luís Montez, o homem da rádio, dos festivais de Verão e o genro de Cavaco Silva. Deixou-se encantar pela aventura da música desde miúdo. A criação da Música no Coração determinou-lhe o percurso desde 1991, altura em que a música alternativa preenchia o calendário do que a promotora apresentava no país.

A reedição do Festival Vilar de Mouros em 96 e a criação do Sudoeste um ano mais tarde catapultaram-no para o universo dos grandes nomes da pop/rock. Ao mesmo tempo, o reconhecimento chegava-lhe enquanto inventor da XFM e, mais tarde, como director da Rádio Comercial e da Antena 3. A determinação - "homem de ideias fixas", como o definem os seus colaboradores - não o deixa 'largar as mãos da massa'. Vive a um ritmo asfixiante, mas se pára dói-lhe a cabeça. Entre o backstage e a Radar, Oxigénio e Marginal, as suas rádios do momento (e nas quais Álvaro Covões se mantém como sócio), o tempo é todo para a música. A descoberta de um artista é o que mais gozo lhe dá. O mesmo que teve em Janeiro de 97, quando acordou dentro de um carro atascado no meio de um campo perto da Zambujeira do Mar, ao lado do seu braço-direito Pedro Tavares e do irmão João Paulo. Tinha descoberto o terreno que lhe permitiria realizar o maior sonho da sua vida: fazer um festival de música na terra das suas férias juvenis.

Hoje, o Sudoeste não deixou de ser o menino dos seus olhos. Vê o futuro através dessa marca que criou. A edição deste ano terá já um palco Barcelona. O objectivo maior é trazer a Portugal o público estrangeiro. De resto, o caminho da Música no Coração está traçado: criar melhores espectáculos para o público e melhores condições para os artistas actuarem. É com esse propósito que todos os anos leva a sua equipa aos maiores festivais de música do mundo. "Aprender" é a sua palavra de eleição, ao lado de "comunicação", o que mais lhe facilita a vida no que respeita a conseguir patrocinadores para os eventos que promove.

A cisão com Álvaro Covões é vista na Música no Coração como uma evolução normal. Os dois sócios tinham funções definidas dentro da empresa, mas opiniões distintas. A concorrência é salutar. E a "zanga" não trouxe prejuízo. Talvez por isso, continue a ser compatível ter o dono da Everything Is New como co-proprietário da herdade do Sudoeste.

  • Festival Super Bock Super Rock
  • Festival Sudoeste
  • Cool Jazz Fest
  • Festival Delta Tejo
  • Festival Vilar de Mouros
  • Concerto de Diana Krall

O Portugal do século XXI está definitivamente na rota mundial dos grandes nomes da música. Mas não vive só deles. Lisboa, sobretudo, tem uma oferta cultural diária cada vez mais intensa, feita por diversos agentes. Abaixo das gigantes Música no Coração e Everything Is New, promotoras de dimensões reduzidas trabalham afincadamente. A Ritmos & Blues ocupa já um lugar de destaque na apresentação de espectáculos, mas não se dedica apenas aos concertos ao vivo (Elton John, por exemplo, ou, em Novembro, os Spandau Ballet). As grandes produções de artes do palco e o entretenimento familiar fazem sempre parte da sua agenda. Foi a R&B que trouxe a Portugal o musical "Mamma Mia" ou o espectáculo "Disney on Ice". Segue-se a Uguru. Virada estritamente para a música, aposta em nomes como Mayra Andrade, Couple Coffee, Vinicius Cantuária ou Rodrigo Leão. Com um catálogo associado à música portuguesa e à world music(sobretudo oriunda de África), a HMMúsica apresenta em palcos de dimensões mais reduzidas as mais interessantes novidades do mundo do fado. Já a Incubadora das Artes, uma das mais recentes promotoras nacionais, aposta em espectáculos com nomes que já fizeram história. O jazz e alguma música do mundo são o seu nicho de mercado, conseguindo encher salas como o CCB ou o Campo Pequeno. Portoeventos e UAU são outras promotoras a ter em conta.

  • Cada artista é um negócio próprio. O aluguer do carro em que quer viajar ou o hotel em que quer ficar instalado fazem parte do contrato
  • O trabalho do promotor passa ainda por satisfazer todos os caprichos do artista. Se for preciso ir ao estrangeiro comprar a água de eleição do músico, vai. Se tiver que encher o camarim com 30 litros de uísque da marca mais rara, tem que o fazer
  • A queda de vendas do mercado discográfico veio facilitar a vida às promotoras. Favorece a procura de espectáculos e obriga os artistas a tocarem mais vezes
  • A escolha da data de um concerto ou festival é fundamental e implica uma atenção rigorosa à concorrência. Um Benfica-Porto no mesmo dia pode ser a morte do artista

 Texto publicado no Actual da edição do Expresso de 25 de Julho de 2009