Imagens como as da figura acima, não sendo novas, vão-se tornando mais comuns à medida que o tempo passa e as piores consequências das alterações climáticas se vão tornando mais próximas e mais reais.
Uma das grandes causas de inação, segundo os cientistas, é a incapacidade do ser humano de reagir e de moldar o seu comportamento perante ameaças que lhe estão distantes, no tempo. Se alguém disser que daqui a mil anos o nível médio da água do mar poderá subir até oitenta metros, a verdade é que ninguém ligará muito.
As ameaças, porém, decorrentes das alterações climáticas estão muito mais próximas. Começam a fazer-se sentir no presente e ameaçam não o futuro distante, mas já o futuro dos nossos filhos e netos.
Também a nível económico tal tem implicações.
Os seguros de habitação em locais costeiros ou em zonas perto de floretas têm vindo a escalar de forma preocupante para quem habita nessas zonas (como por exemplo na Califórnia). A erosão costeira já causou intensos estragos em habitações construídas muito próximas da orla marinha. E pouco faltará para que o setor imobiliário comece a ficar afetado. Afinal, quem quer comprar casa em locais que daqui por 50 anos poderão ter o mar mais do que “à porta”, à volta de uma casa?
Na antecâmara de mais umas eleições, europeias no caso, não posso deixar de refletir sobre o nosso papel nesta situação.
É que existe outra causa para inação que é a dissonância cognitiva, um afastamento da realidade que nos ajuda a justificar internamente o nosso papel nisto tudo.
Assim, observamos aqueles que dizem a si próprios “o problema é grande demais”; não são as minhas ações que irão mudar nada”; ou até “para quê fazer algo se todos os outros continuam na mesma”.
Depois há aqueles que se justificam a si mesmos “ah, eu reciclo e compro materiais biodegradáveis e verdes, portanto posso continuar a fazer isto e aquilo”. Por vezes são até uma combinação de ambas estas posições.
Mas a realidade que convinha começar a enfrentar é que as alterações climáticas não são o problema, mas sim a consequência.
Consequência das opções que individualmente e coletivamente tomamos.
Consequência da nossa dependência em combustíveis fósseis e de tudo o que isso envolve, nomeadamente desflorestação e perda de biodiversidade.
As alterações climáticas estão intrinsecamente relacionadas com o nosso estilo de vida e com o monopólio energético que as empresas que exploram os combustíveis fósseis criaram e a que nós estamos sujeitos.
É fundamental que consigamos relacionar as coisas.
Por exemplo: relacionar a desflorestação na amazónia com os níveis de consumo de carne; a extinção dos corais com o facto de conduzirmos carros que queimam combustíveis fósseis; ou a seca prolongada num vasto conjunto de países e o número de aviões que atravessam os céus no mundo inteiro ou de cruzeiros que atravessam os mares.
Naturalmente, se houvesse pressão suficiente por parte dos consumidores, esse modelo de negócio deixaria de ser tão lucrativo e tais empresas teriam de se adaptar, movendo o seu capital.
E se, por um lado, são as nossas escolhas enquanto consumidores que ditam estes processos e, consequentemente, têm responsabilidades quanto às alterações climáticas que estão em marcha – seja conduzir veículos de combustão interna, comer carne, viajar de avião, comprar roupa fast fashion, etc., a verdade é que as nossas escolhas individuais têm, por si só, pouco peso no quadro geral.
Dito isto, as opções que tomamos enquanto pessoas individuais, sinalizam uma vontade de mudança na sociedade e permitem mais facilmente justificar alterações sistémicas indispensáveis para combatermos as alterações climáticas e para prevenirmos os piores efeitos das alterações climáticas.
Se somos responsáveis pelas emissões que causam o efeito de estufa que causa o caos climático com que nos começamos a deparar, são as nossas ações que poderão promover a mudança.
Andar de bicicleta ou de transportes públicos, reduzir ou eliminar o consumo de carne, andar menos de avião, comprar menos roupa ou optar por roupa em segunda mão, instalar painéis solares, são escolhas que vão produzir impactos diretos nas alterações do clima.
E qual a ação mais relevante que podemos ter para combater as alterações climáticas?
Votar.
Votar em Partidos que promovam a proteção do ambiente e da biodiversidade.
Votar em Partidos que estejam empenhados em promover uma transição energética e em combater a dependência de combustíveis fósseis.
Votar em Partidos que irão eliminar subsídios às empresas de exploração de combustíveis fósseis e à pecuária1.
O preço a pagar será tão mais elevado quanto o tempo que levarmos a agir.