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Diva Amon: “A cura do cancro pode estar no fundo do mar, mas precisamos de ter a oportunidade de a procurar”

Bióloga marinha caribenha já descobriu seis novas espécies de mar profundo, incluindo um tipo de lagosta e dois de esponjas. Em entrevista ao Expresso, defende a urgência de preservar este importante ecossistema sobre o qual não sabemos quase nada e alerta para os perigos da mineração

Camarão fotografado nos ramos de "coral de bambu"
NOAA

Um deserto, sem luz ou calor, vazio. Para muitos, esta é a imagem conjurada quando se pensa no mar profundo, a extensão dos oceanos que começa geralmente aos 200 metros de profundidade e pode chegar quase aos 11 mil metros no seu ponto mais fundo, na Fossa das Marianas.

“Sim, está escuro. Mas não é aborrecido. Não está vazio. Não é estéril”, adverte a bióloga marinha Diva Amon. “Isso é o que pensávamos há cem anos. Mas a exploração e a investigação científica feitas no último século mostraram que isso está muito longe da verdade.”

Nascida nas Caraíbas, na Trindade e Tobago, Diva Amon cresceu rodeada de mar. “Passávamos muito tempo na praia, na água. E percebi que havia muitas questões sobre o oceano para as quais não tinha resposta. Houve tantas vezes que quis ver o que havia lá em baixo e não conseguia.”

Foi esta curiosidade que moldou o seu futuro. Hoje é um dos nomes de referência no seu campo, a biologia marinha especializada no mar profundo, e uma autoridade no estudo de como as nossas ações influenciam estes habitats e espécies tão pouco conhecidas. Já participou em expedições por todo o mundo e é creditada pela descoberta de seis novas espécies, incluindo um tipo de lagosta e dois de esponjas. É também uma das vozes mais ativas quanto à importância da conservação marinha, mesmo das partes que não conhecemos.

Afinal, segundo a UNESCO, os oceanos cobrem cerca de 71% da superfície terrestre, mas estima-se que apenas 5% tenha sido explorada e mapeada pelo ser humano. O desconhecimento é ainda maior quanto ao mar profundo.

“É o maior ecossistema da Terra. Fornece cerca de 96% do volume do espaço habitável onde a vida pode existir no planeta e ainda assim só vimos 0,001% ou menos com os nossos olhos ou através da câmara”, explica a cientista. “Na verdade, é um vasto reservatório de biodiversidade. Acreditamos que há perto de um milhão de espécies que vivem no oceano e a maioria delas está no fundo do mar. A maioria ainda não foi descoberta.”