A Católica-Lisbon através do seu Center for Responsible Business and Leadership, em parceria com o BPI, Fundação “la Caixa” e a Fundação Francisco Manuel dos Santos, publicou esta semana o segundo relatório do Observatório dos ODS nas empresas portuguesas e concluiu que o país está relativamente avançado no progresso da Agenda 2030, mas tem ainda muitos desafios no cumprimento de alguns objetivos considerados estratégicos para a economia e para a sociedade. Portugal encontra-se na 18º posição no ranking global dos 166 países avaliados pelo Relatório de Desenvolvimento Sustentável.
Os ODS fazem parte da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Esta Agenda 2030, definida em 2015, é composta por 17 ODS e 169 metas, abrangendo preocupações sociais, económicas e ambientais.
Neste estudo, os peritos da Católica começam por recordar as palavras do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que, em julho deste ano, dramatizou o discurso e afirmou que “a era do aquecimento global terminou e começou a era da ebulição global”. Quando estamos a meio do percurso para atingir as metas fixadas pelos ODS, apenas cumprimos 15% a 18% dos objetivos definidos em 2015.
As empresas, naturalmente, têm um papel determinante para que estes ODS possam ser cumpridos e este Observatório é uma tentativa de fazer um ponto de situação sobre o caminho que as empresas portuguesas já percorreram e o que falta fazer. Este trabalho resulta de uma recolha de dados em parceria com 61 grandes empresas e 108 PME (pequenas e médias empresas) a operar em Portugal.
Os peritos da Católica concluem, com base nos inquéritos feitos, que “as empresas portuguesas têm uma grande consciência da importância da Agenda do Desenvolvimento Sustentável e, através das suas ações, demonstram compromisso com o seu cumprimento” e o relatório dá o exemplo de várias “Boas Práticas” que estão a ser desenvolvidas pelas empresas. Leia aqui o relatório completo.
Consumidores estão a fazer mais pressão
Neste estudo em que participaram um total de 169 empresas, as grandes empresas assumem que para elas os ODS mais importantes, do ponto de vista estratégico, são o 8 (trabalho digo e crescimento económico), o 12 (produção e consumo sustentáveis) e o 1 (ação climática). Já as empresas de menor dimensão colocam o ODS 5 (igualdade de género) no topo da lista, seguido pelos ODS 7 (energias renováveis e acessíveis) e 8.
Quando são questionadas sobre o que as motiva a cumprir os ODS, no caso das grandes empresas, “a principal motivação prende-se com a resolução de problemas sociais e ambientais em parcerias, seguida pela oportunidade de ter impacto na indústria como líder na sustentabilidade”.
Os peritos da Católica destacam ainda o crescimento da “pressão dos consumidores” como uma forte motivação”, ou seja, são os próprios clientes que estão a empurrar as empresas rumo aos objetivos da Agenda 2030. Isto demonstra que “os consumidores estão cada vez mais atentos e exigentes em relação à forma como consomem e às práticas sustentáveis das empresas, influenciando positivamente as suas decisões e incentivando as organizações a adotarem medidas mais responsáveis”.
No caso das PME, as principais motivações para cumprir os ODS referem-se “ao posicionamento da empresa no mercado, em particular a oportunidade de crescimento de negócio e a oportunidade de ganhar vantagem competitiva e reputação”. A terceira opção mais escolhida pelas PME foi a preocupação em cumprir a legislação.
O “tsunami legislativo que se avizinha”
Neste ponto específico da legislação, os especialistas garantem que as empresas portuguesas demonstram compromisso e alinhamento estratégico com os ODS, mas ressalvam que nem todas estão prontas para o “tsunami legislativo que se avizinha”. A União Europeia tem vindo a aprovar nos últimos anos várias diretivas que têm vindo a ser transpostas para a legislação nacional e que obrigam as empresas a cumprir critérios mais apertados a nível do ESG (sigla inglesa para ambiente, responsabilidade social e governança) e a reportar mais informação ao mercado e aos stakeholders.
Sobre esta tema da comunicação, o Observatório concluiu que a esmagadora maioria das grandes empresas (96,7%) publica relatórios com informação sobre sustentabilidade, havendo apenas 14,8% das PME inquiridas que o fazem. Apesar de as PME ainda estarem bastante mais atrasadas quando comparadas com as grandes empresas, este estudo conclui que “o progresso das PME no seu alinhamento, conhecimento e incorporação dos ODS na sua estratégia melhorou substancialmente no último ano”.
Quando questionadas especificamente sobre as novas obrigações de reporte incluídas na Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativo (CSRD, na sigla inglesa), 85,2% das grandes empresas afirmam que conhecem as novas obrigações de reporte e no caso das PME 60,2% dizem não conhecer.
Tanto as PME como as maiores empresas veem a sustentabilidade como um investimento de elevada oportunidade e de baixo risco, mas continuam a queixar-se da existência de várias barreiras para que possam adotar os ODS. As maiores barreiras são a “falta de conhecimento sobre como operacionalizar”, a “falta de recursos” e a “falta de conhecimento sobre os ODS”. Neste último capítulo, 73,8% das grandes empresas asseguram ter um elevado conhecimento dos ODS, percentagem que cai para 42,6% quando a pergunta é feita aos gestores das PME.
Em jeito de conclusão, os responsáveis pela elaboração deste estudo defendem que as empresas portuguesas têm mostrado comportamentos diversificados na sua ambição e atuação na Agenda 2030 e que as grandes empresas, “fruto de exigências legais e de mercado, apresentam um maior progresso da implementação e alinhamento estratégico com os ODS em comparação com as PME”. Apesar destes resultados, “o progresso das PME no seu alinhamento, conhecimento e incorporação dos ODS na sua estratégia melhorou substancialmente no último ano. Ainda assim, existem ainda desafios transversais em todo o setor empresarial”.
Apenas 15% das PME publicam relatórios com informação sobre sustentabilidade
Um Observatório da Católica-Lisbon fez o retrato à forma como as empresas portuguesas estão a cumprir os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas. Uma das conclusões é que os consumidores estão a pressionar cada mais as grandes empresas a ter boas práticas. As PME ainda estão bastante atrasadas, mas deram um salto “substancial no último ano”