Foi em 2009 que abriu portas em Portugal o maior centro comercial da Europa, composto por 300 lojas, entre as quais 11 salas de cinema, 30 restaurantes e um hipermercado, distribuídas por uma área comercial com 122 mil metros quadrados. O Dolce Vita Tejo, que dez anos mais tarde mudaria o nome para UBBO, é um dos 20 centros comerciais geridos e comercializados pela CBRE em Portugal.
A empresa, que opera no setor do imobiliário, garante que quer chegar à neutralidade carbónica em 2040 e, para tal, tem apostado nas energias renováveis, na separação de resíduos e em medidas como o aproveitamento de águas pluviais nos espaços comerciais. Mónica Pinto Coelho, diretora de marketing da CBRE Portugal, garante que a empresa conseguiu em 2022 evitar a emissão de seis mil toneladas de dióxido de carbono para a atmosfera.
A empresa também tem apostado nas certificações internacionais para atestar a sustentabilidade dos seus edifícios e, segundo Mónica Pinto Coelho, “90% dos centros comerciais geridos e comercializados pela CBRE têm certificação BREEAM, avaliada com o grau de excelente na vertente de gestão”. A CBRE Portugal, que conta com 300 trabalhadores, também garante que tem apostado nas “cláusulas verdes” em vários contratos para reduzir o impacto ambiental da propriedade obrigando, por exemplo, inquilinos a controlar e monitorizar os consumos de energia e de água.
Em respostas escritas enviadas ao Expresso SER, Mónica Pinto Coelho explica o que a empresa tem feito a nível de ESG (sigla inglesa para ambiente, responsabilidade social e governança), desde o programa social “Caring for Communities” à campanha sobre incêndios lançada este verão.
A CBRE é uma empresa com sede em Dallas e tem uma filial em Portugal. Para quem não conhece, o que faz o grupo?
Somos uma consultora imobiliária internacional a operar em Portugal há 35 anos em todos os setores de imobiliário comercial. A CBRE aconselha, de forma estratégica, quanto às melhores formas de investir, financiar e valorizar os ativos imobiliários, oferecendo soluções únicas de planeamento e arrendamento. Desta forma gerimos todos os aspetos do portefólio imobiliário, desde a contabilidade, gestão energética, comercialização, marketing até à gestão das áreas técnicas. Atualmente fazem parte da CBRE em Portugal mais de 300 pessoas.
Quantos centros comerciais e retail parks é que gerem em Portugal?
A nível ibérico, a CBRE é líder absoluta na gestão de ativos de retalho para terceiros – 60 entre Portugal e Espanha. A nível nacional gerimos e comercializamos 20 ativos de norte a sul do País, nomeadamente o UBBO, em Lisboa, todo o portefólio da DWS, entre eles, o Alameda Shop & Spot no Porto, ou o mais recente ativo sob gestão, o Fórum Madeira na cidade do Funchal.
Qual é a pegada carbónica atual da vossa atividade em Portugal?
Trabalhamos diariamente para chegar à neutralidade carbónica em 2040, sendo que os indicadores de ESG – Environmental, Social e Governance – fazem parte de toda a nossa estratégia e operações. Anunciámos, orgulhosamente, na Semana do Ambiente os resultados deste caminho que tem vindo a ser feito. Só em 2022, a CBRE conseguiu neutralizar a emissão de 6 mil toneladas de CO2 para a atmosfera.
O que fizeram de mais relevante para conseguirem esta redução?
90% dos centros comerciais geridos e comercializados pela CBRE têm certificação BREEAM, avaliada com o grau de excelente na vertente de Gestão. Este reconhecimento analisa diversos parâmetros de boas práticas onde se incluem a gestão dos principais recursos assim como o impacto ambiental, a produção de carbono e de resíduos.
Utilizamos a chamada “energia verde”. Quer isto dizer que a energia contratada em todos os espaços é proveniente de fontes de energia renováveis, o que permitiu evitar a emissão de 1992 toneladas de dióxido de carbono para a atmosfera. De destacar também uma das medidas implementadas há mais tempo, a correta separação de resíduos. Com ela desviámos três mil toneladas de resíduos dos aterros, uma das maiores quantidades de sempre que corresponde a 3482 toneladas de CO2 na atmosfera.
“Os nossos escritórios estão cada vez mais verdes e os espaços comerciais cada vez mais alimentados a energias limpas e com pegadas carbónicas a tender para zero.”
O que têm feito de concreto ao nível do consumo de energia e gestão de resíduos? Também é um tema relevante na vossa atividade?
Sem dúvida. Tal como referi atrás, a sustentabilidade é um vetor estratégico no nosso negócio. Estamos alinhados com os princípios europeus para a concretização de políticas e boas práticas de gestão sustentáveis, que nos ajudam a definir a melhor estratégia para a neutralidade carbónica de cada ativo e que se reflete na gestão dos mesmos.
Os nossos escritórios estão cada vez mais verdes e os espaços comerciais cada vez mais alimentados a energias limpas e com pegadas carbónicas a tender para zero. Existe um total compromisso da empresa e das equipas que se envolvem em cada projeto para, no fundo, contribuir para um futuro melhor para todos. A nossa influência sobre todos os stakeholders envolvidos – proprietários, lojistas, ocupantes fornecedores e clientes – ajudam-nos a desenhar a política de ESG adaptada e construída para cada ativo, retirando o máximo de partido das suas potencialidades.
Tem feito parte da nossa estratégia a aposta em equipamentos cada vez mais eficientes e em técnicas de monitorização e ajuste de parâmetros para os respetivos funcionamentos. Aproveitamento de águas pluviais e melhoria na segregação, tratamento e encaminhamento dos resíduos para locais adequados, têm sido outras das medidas que fazem parte da nossa prática. Estão também em fase bastante adiantada estudos para a instalação de painéis fotovoltaicos em todos os ativos de retail sob a nossa gestão.
Os centros comerciais que são geridos pela CBRE têm certificações do tipo BREEAM, LEED ou WELL?
Dentro dos ativos geridos pela CBRE, 90% têm certificação internacional BREEAM, com classificações que vão entre o “Muito Bom” e “Excelente”, respetivamente para as categorias de Edifício e Gestão na vertente ‘Em-Uso’. Este é um sistema que nos permite medir o grau de sustentabilidade dos edifícios, tendo como principal objetivo reduzir os custos de funcionamento e melhorar o comportamento ambiental dos mesmos. Depois temos dois edifícios de escritórios em gestão com certificação WELL e estamos a trabalhar para a certificação de mais até final do ano.
No setor imobiliário, as certificações são um tema relevante? Por exemplo, na capacidade de atrair lojas/clientes para os centros comerciais?
As certificações permitem, não só à entidade gestora como aos proprietários e inquilinos, avaliar as boas práticas de gestão do edifício. Existe uma avaliação comparativa com outros edifícios que contribuem para o desenvolvimento de planos de ação, com o objetivo de sermos cada vez melhores. Através deste sistema os imóveis irão beneficiar de uma redução de custos operacionais, redução do impacto ambiental, melhoria dos níveis de reconhecimento internacional, reforço da responsabilidade corporativa e, consequentemente, o aumento do desenvolvimento de boas práticas, afirmando-se como empresa mais sustentável.
“As green clauses são obrigações para os proprietários ou inquilinos, no âmbito do processo de gestão dos ativos que visam reduzir o impacto ambiental da propriedade.”
Tem sido fácil envolver os proprietários, lojistas e fornecedores que trabalham convosco neste esforço de transição energética?
Sim. Cada vez mais sentimos que as pessoas – sejam os proprietários, lojistas ou fornecedores – estão preocupadas com o futuro do nosso planeta. É muito gratificante trabalhar em equipa e perceber que olhamos todos na mesma direção, na procura de soluções conjuntas. Queremos dar o exemplo. No fundo este nosso compromisso com as pessoas diz respeito aos nossos parceiros, aos nossos clientes, às novas gerações, às mais de 200 mil pessoas que passam, a cada ano, pelos nossos ativos em gestão. Prova disso mesmo são as cláusulas verdes (as chamadas green clauses) que têm vindo a ser introduzidas nos contratos entre as partes, manifestando o compromisso de boas práticas ambientais ao nível de operação, construção, compras e gestão dos recursos.
O que são estas “cláusulas verdes”? E em que tipos de contratos é que a CBRE as tem usado. Consegue dar exemplos concretos?
As green clauses são obrigações para os proprietários ou inquilinos, no âmbito do processo de gestão dos ativos que visam reduzir o impacto ambiental da propriedade, quer pela via de melhoramentos ou pela aplicação de boas práticas.
Exemplos de green clauses são o controlo e monitorização de consumos, quer de energia quer água, objetivando a identificação de potenciais reduções. Neste caso, sempre que possível, a partilha de informação deste tipo, pode ser comparada com rácios de consumos de locais idênticos permitindo uma mais adequada gestão desses recursos. Outro exemplo poderá ser a responsabilização dos intervenientes no contributo em investimentos de sustentabilidade que possam melhorar a eficiência energética dos ativos.
Além do tema ambiental, o que é que a CBRE tem feito de mais relevante nas outras duas vertentes do ESG?
A CBRE leva muito a sério a sua reputação, altos padrões de atuação e forma de estar no negócio. Os valores RISE, transmitidos a todos os empregados desde o primeiro dia que entram na empresa, são princípios que refletem esta preocupação, sendo o Respeito e a Integridade os dois primeiros do acrónimo RISE.
Ao nível do social são vários os programas e práticas em curso (divulgação, sensibilização, linhas de apoio, inquéritos, workshops, acesso a plataformas, etc.) que vão desde saúde e bem estar, igualdade de género, diversidade, igualdade no trabalho, condições no trabalho, ações de voluntariado em dias de trabalho, aprendizagem e desenvolvimento, anti-discriminação.
Ao nível do Governance são também refletidos os princípios de uma gestão responsável e com preocupações éticas, de boas práticas e de compliance. Ao ponto de existir uma função global de “Ethics &Compliance”.
São divulgadas, e é garantido através de formações registadas, a periódica atualização de todos os funcionários, as políticas e códigos e padrões de conduta, o código de conduta fornecedores, a avaliação de fornecedores, a política de compras global, as políticas de anticorrupção. Existem ainda programas, formações e sensibilizações continuas ao nível da Cybersegurança e assédio no trabalho.
Que programa é este que a empresa criou, o “Caring for Communities”?
O “Caring for Communities” é um programa criado pela CBRE a nível ibérico, em 2022, que pretende ser um acelerador de impacto social junto das nossas comunidades através da nossa gestão e reflete o nosso compromisso e responsabilidade com as mesmas. Este programa é enquadrado na nossa estratégia de ESG, e consiste na implementação de iniciativas de carácter social, mas acima de tudo pretende dar uma orientação estratégica e estruturada de como a forma como devemos trabalhar “S”. Queremos que sejam iniciativas que tenham de verdade um impacto relevante para as comunidades dos vários ativos e que no fundo crie valor e good will para todos os stakeholders envolvidos.
Lançaram recentemente uma campanha sobre incêndios durante os meses de verão. Porque escolheram este tema que não está diretamente ligado à vossa atividade core?
Infelizmente, e como todos sabemos, grande parte de Portugal já se encontra em situação de seca, com tendência para agravamento nos meses de maior calor. Até à data de hoje foram destruídos cerca de sete mil hectares devido a incêndios florestais e nós não podíamos ficar indiferentes a esta problemática.
A campanha ibérica “De que lado estás?” a decorrer em 16 Centros Comerciais e Retail Parks em Portugal é um apelo à urgente necessidade de uma gestão consciente dos recursos que passa pela segurança das florestas assim como pelo apoio social e solidário aos corpos de bombeiros das comunidades onde estamos presentes. Para apelar à necessidade de todos fazerem a sua parte. Enquanto líder mundial na prestação de serviços imobiliários consideramos que o cuidado com o planeta e as gerações futuras está no centro da nossa responsabilidade.