Sociedade

Ver Mercúrio a olho nu

É o planeta mais próximo do Sol e, por isso, o mais difícil de observar dos cinco que se podem ver a olho nu. A partir de quarta-feira, os aficionados da astronomia têm uma boa oportunidade para o ver.

Chamam-lhe o planeta elusivo. Por ser o mais próximo do Sol, é também o mais difícil de ver entre os cinco planetas brilhantes, já que nunca se afasta demasiado do astro para permitir uma boa observação - no meio científico, há até quem acredite que Copérnico nunca o viu. A missão, contudo, não é impossível. Basta saber para onde olhar e reunirem-se as condições ideais, algo que será possível já a partir de quarta-feira, para quem se encontra no hemisfério Norte da Terra, como os portugueses.

Três vezes por ano, Mercúrio torna-se mais brilhante e, como tal, mais visível durante a manhã. Em quatro períodos, isso acontece ao fim da tarde. É precisamente o segundo desses períodos que começa na quarta-feira, abrindo uma janela de oportunidade para a observação do pequeno planeta rochoso que só se fechará no próximo dia 29 de Maio.

À semelhança do que acontece com Vénus, Mercúrio atravessa fases como a Lua. Neste momento, está quase na sua fase "cheio", encontrando-se acima do Sol, razão pela qual se apresenta tão iluminado. Na quarta-feira, aproximadamente 40 minutos após o pôr-do-sol, se o céu estiver limpo e a sua visão não estiver obstruída por algum objecto, não deverá ter problemas em observar um astro muito brilhante num tom amarelo-alaranjado. Mercúrio brilhará a uma magnitude de -1.8, o que fará dele o objecto mais brilhante nesse início de noite, suplantando Sirius, a mais brilhante de todas as estrelas à excepção do Sol.

Mais visível na primeira quinzena de Maio

Nos dias seguintes, o astro começará, aos poucos, a perder intensidade. Paradoxalmente, este é apenas o início do período em que os habitantes do hemisfério Norte o poderão ver melhor. "As melhores condições de visibilidade ocorrerão na primeira quinzena de Maio", adiantou ao Expresso Suzana Ferreira, astrónoma do Observatório Astronómico de Lisboa. A explicação é simples: apesar de se tornar progressivamente menos brilhante, o planeta também começará a ganhar altitude à medida que se afasta do Sol.

A maior aparição nocturna de Mercúrio neste ano de 2008 ocorrerá na noite de 14 de Maio. É o período em que atinge a sua enlongação máxima (distância angular em relação ao Sol), sendo visível no horizonte até duas horas após o pôr-do-sol. Nessa noite, apenas metade da sua superfície estará iluminada e, nos dias seguintes, o astro perderá brilho a um ritmo mais intenso, até se extinguir no horizonte no dia 29 de Maio. Fá-lo-á por pouco tempo, já que a partir de 17 de Junho e até 22 de Julho abre-se uma nova janela de observação, agora já ao início da manhã, embora as condições de visibilidade nessa altura não sejam tão boas.

Mercúrio é o primeiro planeta do sistema solar a contar do Sol e também o menor do sistema solar (depois da despromoção de Plutão), sendo um dos poucos que não possuem satélites. Foi baptizado com o nome do Deus romano encarregado de levar as mensagens a Júpiter, porque parecia mover-se mais depressa que qualquer outro planeta. Dada a sua proximidade do Sol e a inexistência de atmosfera, as temperaturas atingem os extremos: chegam aos 482ºC, ao meio-dia, e descem até aos -184ºC durante a noite.