Parece um caso retirado de um episódio de uma série, mas trata-se de um acontecimento bem real. Na Austrália, num hospital de Camberra, um neurocirurgião retirou um parasita — semelhante a uma minhoca — do cérebro de uma mulher. O verme media cerca de oito centímetros de comprimento e o caso, embora raro, foi documentado na edição de setembro da revista Emerging Infectious Diseases. Mas será que um caso semelhante podia acontecer em Portugal? Provavelmente, não.
O que aconteceu exatamente a esta mulher?
O parasita retirado do cérebro desta mulher era uma Ophidascaris robertsi (uma lombriga que é, por norma, encontrada em cobras piton). A paciente residia perto de um lago onde existem cobras piton. E, apesar de não lidar diretamente com as cobras, a mulher costumava frequentar locais junto ao lago e recolher algumas ervas para cozinhar. Os especialistas que estudaram este caso acreditam que uma cobra possa ter espalhado o parasita através de fezes na relva.
Pode a paciente australiana transmitir esta doença a outras pessoas?
Segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, três quartos das novas doenças infecciosas ou emergentes nas pessoas provêm de animais. No entanto, esta infeção não é transmitida entre pessoas. Contudo, apesar de este ser o primeiro caso registado, outras pessoas que vivam perto destas cobras podem vir a contrair o mesmo parasita.
E em Portugal?
Em Portugal não existe a Ophidascaris robertsi. “Estas situações diferem de região para região no mundo. Não se aplica em Portugal o que sucede nos EUA, em África ou no Norte da Europa, por exemplo”, explica o neurologista no Centro Hospitalar Universitário São João e docente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, João Massano.
O médico deixa, no entanto, um alerta. “É preciso não esquecer que vivemos num mundo com grande mobilidade e recebemos muitos estrangeiros no nosso país ou residentes em Portugal que se deslocam ao estrangeiro em férias ou trabalho. Por exemplo, não existe malária contraída em Portugal, mas são diagnosticados casos”.
Mas podemos ter outros parasitas?
Sim, mas, ainda assim, “as parasitoses com atingimento cerebral são raras em Portugal”. O que era mais comum no nosso país era a “cisticercose”, mais conhecida por ténia ou "bicha solitária”. Contudo, a “prevalência desta infecção diminuiu muito nas últimas décadas no nosso país devido à melhoria das condições de higiene, saneamento e preparação dos alimentos”.
A que devemos estar atentos?
“Em Portugal não faz sentido estar ‘atento’ a sinais especiais, porque são situações pouco frequentes e os sintomas são geralmente muito inespecíficos destas doenças”, acrescenta o neurologista.
Ainda assim, as pessoas com deficiências do sistema imunitário têm mais “probabilidade de infecção com repercussões clínicas”. Os problemas mais frequentes são, segundo João Massano, “as crises epilépticas, dores de cabeça e os défices neurológicos que resultam do atingimento cerebral, como diminuição da capacidade motora ou descoordenação dos movimentos ou diminuição das capacidades cognitivas, incluindo confusão mental”.