No dia em que os cristãos assinalam o nascimento de Jesus, o Papa Francisco virou o olhar para Belém, numa geografia que continua a ser devastada pela guerra entre Israel e o Hamas. “O coração de todo o mundo está virado para Belém, onde reinam a dor e o silêncio”, disse no início da sua mensagem de Natal, também conhecida como bênção "Urbi et Orbi".
A partir do balcão central da Basílica de São Pedro, em Roma, o sumo pontífice denunciou a “matança de inocentes” e as “vidas destruídas” pela guerra, em particular, das crianças. Com o cardeal José Tolentino de Mendonça ao lado, o Papa quis equilibrar a balança e deixou ainda palavras de esperança e de alegria pela celebração do nascimento do “príncipe da paz”. “Dizer sim ao príncipe da paz é dizer não à guerra, à própria lógica da guerra e a todas as guerras”, declarou. Apesar do foco especial na crise do Médio Oriente, o sumo pontífice apelou à paz também na Ucrânia, Arménia, República Democrática do Congo ou Península da Coreia.
Com a guerra no Médio Oriente a fazer centenas de mortos todos os dias – incluindo no local onde os cristãos acreditam ter nascido Jesus –, o sumo pontífice deixou um “abraço especial” para a paróquia de Gaza e “toda a Terra Santa”.
Antes de rezar pela “paz na Palestina e em Israel”, o Papa Francisco pediu ainda a “entrada de ajuda humanitária” no território palestiniano, que se “termine com o ódio” e se avance para uma solução entre os dois Estados com a mediação da comunidade internacional. Virando-se para o lado israelita, Francisco disse que traz “no coração” as “vítimas do 7 de outubro” e voltou a apelar à entrega dos reféns que ainda permanecem nas mãos do Hamas. “Suplico para o sucesso dessa operação”, disse.
Mais uma vez, o Papa insistiu no fim dos conflitos que são uma “viagem sem destino, uma derrota sem vencedores, uma loucura indesculpável”. Com a mira nos países que aplicam grande parte do seu orçamento em armamento e deixam as populações viverem em condições indignas, o Papa Francisco denunciou estas escolhas: “quanto dinheiro público é destinado a armamento? O povo não quer armas, quer pão”. Aqui surgiu o mote para criticar este “instrumento de morte”, que não deve estar nas mãos dos "homens com o coração instável”. “É preciso dizer não às armas”, resumiu.
Ciente de todos os atores que alimentam os cenários de guerra, o chefe da Igreja Católica denunciou ainda o “negócio das armas” que contribuem para a “massacres armados” que acontecem longe da atenção mediática, “no silêncio ensurdecedor”. “Fale-se sobre isso, escreva-se sobre isto para mostrar os cordelinhos que movem o negócio da guerra”, pediu.
Num ano em que se multiplicaram os conflitos por todo o mundo, o Papa Francisco atravessou o globo para deixar votos de paz. Para o povo libanês pediu “estabilidade política e social”, na Ucrânia implorou “paz ao martirizado povo”, apelou a mais “iniciativas humanitárias e respeito mútuo” entre a Arménia e o Azerbaijão, pediu que não nos esqueçamos das “tensões e conflitos” no Sudão, Camarões e República Democrática do Congo e desejou que se “aproxime o dia” em que se reestabelecem os laços na Península da Coreia.
Nos menos de 20 minutos de homilia, o Papa Francisco quis deixar também uma palavra de esperança aos milhares de fiéis reunidos em frente à Basílica de São Pedro, em Roma. Antes de dar a bênção - que se repete apenas na altura da Páscoa -, o sumo pontífice lembrou as “palavras do anjo de Belém” que anunciaram o nascimento do filho de Deus e que devem “encher todos de esperança” e de “grande alegria”. “É a notícia que mudou o rumo da História”.