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Abençoar casais homossexuais, ou de como Francisco continua a lutar por uma igreja menos julgadora

Os casais homossexuais vivem “irregularmente”, mas podem ser abençoados. A recente decisão do Papa é resposta completa a uma série de “dúvidas” dos cardeais mais conservadores. Francisco assinou um ato “político”: a igreja não os casa, mas reconhece-os e trata-os como filhos de Deus

Casal homossexual à saída de uma cerimónia de bênção em Magdeburgo, Alemanha
Ronny Hartmann/Picture Alliance/Getty Images

Vista de fora, a decisão de abençoar homossexuais pode parecer inócua e carente de transcendência. Há padres, bispos e cardeais que abençoam ou fazem abençoar cães, gatos, carros, casas ou campos de vizinhos, sem que ninguém se escandalize. Ora, um casal homossexual é formado por pessoas, ou seja, por muito mais do que o que antecede.

É esta a ideia, como diria um agnóstico, inatas à “declaração” difundida esta semana pela Congregação para a Doutrina de Fé, um “ministério” da Santa Sé que conserva, interpreta, defende e divulga, a seu ver, a “verdadeira” doutrina católica.

Desde que Francisco nomeou para “ministro” da ortodoxia católica o seu amigo argentino Víctor Fernández, o Papa e este teólogo estão na mesma onda. Anteriores titulares do cargo, como o alemão Gerhard Ludwig Müller, respondiam em desarmonia com o pontífice. Já em 2021, o espanhol Luis María Ladarer Ferrer, seu sucessor, afirmou que de forma alguma se poderia abençoar homossexuais. Francisco esperou um pouco e destituiu Müller e Ferrer.