O bispo Rui Valério vai ser o novo Patriarca de Lisboa. A nomeação foi conhecida esta quinta-feira através do boletim diário da Santa Sé. O cardeal Manuel Clemente, como todos os bispos, entregou a sua resignação depois de ter feito os 75 anos, em 16 de julho. O novo bispo não terá, por enquanto, o título de cardeal.
Rui Valério, que vai tomar posse a 2 de setembro, é o atual bispo do ordinariato das Forças Armadas e será ele que vai caber a missão de conduzir a Diocese de Lisboa após a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que decorreu na última semana. Tem 58 anos e é bispo desde novembro de 2018. Simpático e discreto, faz parte dos Missionários Monfortinos e foi vigário paroquial em Castro Verde, na diocese de Beja, e na Póvoa de Santo Adrião, diocese de Lisboa.
Vai também poder formar a equipa episcopal da diocese, que em breve ficará sem qualquer bispo de atual equipa: Daniel Henriques, um dos bispos auxiliares, faleceu em novembro, Manuel Clemente atingiu agora a idade de resignação e Joaquim Mendes, outro bispo auxiliar, já atingiu em março. Pode, contudo, ficar mais algum tempo de forma a garantir a transição de equipas.
O terceiro bispo auxiliar, o futuro cardeal Américo Aguiar, que chegou a ser dado pelo Presidente da República como provável sucessor de Manuel Clemente, deverá ser nomeado para um outro cargo, eventualmente na Curia romana.
O novo bispo titular de Lisboa terá o título de Patriarca, mas não o de cardeal. Pelo menos, por enquanto. Ambos são títulos honoríficos devidos tradicionalmente ao bispo de Lisboa. Contudo, com a nomeação de Américo Aguiar para cardeal, que se tornará efetiva no Consistório de 30 de setembro, Portugal fica com quatro cardeais eleitores, o que é bastante para um país desta dimensão.
Segundo a bula “Inter praecipuas apostolici ministerii”, de Clemente XII, de 1737, o Patriarca de Lisboa deve chegar ao cardinalato logo no primeiro consistório a seguir à sua nomeação. Mas já no caso de Manuel Clemente a elevação só acontece no segundo consistório, já depois de o cardeal José Policarpo ter morrido.
O cardeal Manuel Clemente foi Patriarca de Lisboa durante 10 anos. Antes, tinha sido bispo do Porto, depois de ter sido bispo auxiliar de Lisboa dentre 1999 e 2007. Nos últimos meses esteve envolvido em várias polémicas sobre os abusos de menores por parte de membros da Igreja. Primeiro, foi noticiado que teria ocultado nos anos 90 um caso de abuso por parte de um padre. Depois, com algumas declarações polémicas e alguma resistência a afastar temporariamente os padres da diocese referidos como suspeitos no relatório feito pela comissão independente.
Saudação aos jovens e às vítimas de abusos
Na sua primeira mensagem à Diocese de Lisboa, o bispo Rui Valério saúda o clero e as entidades oficiais, mas também faz saudações eme special aos jovens e às vítimas de abusos. “Saúdo os irmãos e irmãs vítimas de abusos por membros da Igreja, meus irmãos; partilho da vossa dor e, juntos, vamos prosseguir, com esperança, no caminho da cura total do vosso e nosso sofrimento, da tolerância zero”, escreve na mensagem divulgada na página do Patriarcado de Lisboa.
“Saúdo os jovens, agradecendo, desde já, o dom da comparência na Jornada Mundial da Juventude e a dádiva da alegria e do entusiasmo com que iluminaram de esperança o céu da humanidade. Agora sois os depositários de um dinamismo de vida e esperança que juntos iremos expandir para manter vivo”, acredita Rui Valério que também se refere aos leigos e ao Sínodo em curso na Igreja: “Saúdo os leigos, na luz sinodal que nos impele a caminhar juntos para realizar a plenitude da vocação da Igreja, como Corpo de Cristo. Na mudança de época que vivemos, pertence-vos a vós a determinante responsabilidade da Evangelização do mundo e da cultura nas suas mais variadas vertentes, e de configurar o rosto sinodal do Povo de Deus.”