Há qualquer coisa no acto de coleccionar que se relaciona com a imortalidade. Da própria pessoa, que colecciona, mas também da do outro, quando existe um autor daquilo que é coleccionado. Quem colecciona escolhe e nas escolhas que se fazem, e se alimentam, prolongamo-nos; quem colecciona, em princípio, protege, e essa protecção, de forma consciente ou não, expande o tempo de existência do objecto e do autor. Somos uma espécie de vida ainda breve — se nos compararmos com as sequóias, as baleias e tantos outros seres vivos, morremos cedo nós — e o facto é que parte dos nossos artefactos nos sobrevive.
O ser humano colecciona desde há muito, agrupa e conserva as mais variadas coisas, das mais insignificantes e comuns às mais preciosas e raras, classificação que só faz sentido quando existe valor de mercado para o que se colecciona. Para terceiros, a experiência de apreciar uma colecção de caixas ou de caricas de alguém, com valor emocional para o seu proprietário apenas, é diferente da que existe quando se vê uma colecção de arte ou de design num museu, para dar apenas dois exemplos. Acima de tudo pelo valor cultural único que têm essas colecções.